Tal ação engloba as perspectivas sociológicas, antropológicas, culturais, que envolve os diversos contextos no espaço e no tempo. Chamamos esse exercício de contextualização. Contudo, precisamos considerar a seriedade de tal prática, pois em minha opinião, em nome da contextualização podemos diluir e até mesmo perder o próprio Evangelho.
Essa não é uma situação nova, a de lidar com a contextualização da mensagem sem que a mesma seja comprometida, pois quando lemos as cartas do apóstolo Paulo no Novo Testamento já percebemos como o mesmo teve que lidar com essa questão. Vejamos alguns exemplos do que estou escrevendo:
Aos Gálatas o apóstolo escreveu: "Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que já alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo." (1.6-7)
Aos Colossenses escreve: "Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo; porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade." (2.8-9)
A Timóteo o apóstolo orienta: "Expondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Cristo Jesus, alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido. Mas rejeita as fábulas profanas e de velhas caducas. Exercita-te, pessoalmente, na piedade." (1Timóteo 4.6-7)
"Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas." (2Timóteo 4.3-4)
A Tito é dito: "Porque existem muitos insubordinados, palradores frívolos e enganadores, especialmente os da circuncisão. É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância." (1.10-11)
A direção que encontramos na Bíblia para essas situações é que devemos nos apegar firmemente ao evangelho e continuar anunciando-o com integridade e relevância. E para fazer isso é preciso que tomemos cuidado com nossa contextualização. Precisamos ser cuidadosos com as respostas que temos que dar aos contextos de nossa geração.
Muitas vezes percebo que a tendência de muitos cristãos é que, percebendo algum desconforto ou questionamento da sociedade para com algum aspecto do evangelho que está sendo apresentado de modo distorcido por algum grupo que carrega o nome evangélico, é de reagir procurando tratar do mesmo assunto dentro de uma cosmovisão que agrade a sociedade que nos cerca. Mas isso é um grande equivoco. Nossa resposta precisa ser com o evangelho, com o que a Bíblia chama de "sã doutrina".
Talvez o exemplo mais claro que eu possa dar é o que se refere a como lidamos com a questão do dinheiro, que evoca o assunto dízimo das Escrituras.
Como vemos muitas igrejas evangélicas completamente desvirtuadas neste campo, ensinando e procurando motivar as pessoas a darem por ganância, pois se derem Deus sempre irá dar mais para elas, ou por medo, pois se não derem Deus vai tirar tudo o que elas tem; acabamos evitando lidar com esse assunto.
A postura que muitas igrejas tomam é a de entender que o dízimo não é um tema confortável para a sociedade contemporânea, então, não vamos tratar deste assunto, ou não vamos falar disso, para não sermos confundidos com esse outro seguimento de igrejas que apostam na prosperidade sem fundamento bíblico.
Contudo, isso é um erro. Estamos dando a resposta errada. A resposta não é deixar de ensinar sobre dízimo, sobre fidelidade e contribuição, a resposta é ensinarmos sobre essas coisas a luz do evangelho, que nos mostra que devemos ser fiéis em nossa contribuição, generosos, e alegres, e que o dízimo é uma referência, assim como o sábado, para nos lembrarmos de quem é o Senhor de nossas vidas.
Isso foi só um exemplo! O mesmo diz respeito a como temos lidado com várias outras questões como sexo, homossexualismo, envolvimento com a igreja local, testemunho, etc.
Assim, tomemos cuidado com nossas respostas ao mundo que nos cerca. Não é diluindo o evangelho que cumpriremos a missão. O conveniente é que continuemos respondendo ao nosso mundo da mesma maneira que o apóstolo Paulo ordenou que Timóteo respondesse ao dele: "Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério."
No Caminho,
Ricardo Costa
Nenhum comentário:
Postar um comentário