segunda-feira, 23 de junho de 2008

Um Ministério Centrado no Evangelho


Um dos maiores desafios que temos como pastores e líderes no presente século é a fidelidade a pregação do Evangelho. A contínua pressão gerada pela compreensão de sucesso como crescimento numérico da igreja e a influência da "espiritualidade secular", que foca e centraliza o bem estar das pessoas, tem levado muitas igrejas a perderem o centro do Evangelho.

Em 2Timóteo 4.1-5 o apóstolo Paulo faz uma advertência de que chegaríamos a lidar com essa questão do "evangelho da auto-ajuda". E que diante desse contexto deveríamos manter nosso ministério centrado no Evangelho.

O que significa ter um ministério centrado no Evangelho? O que temos pregado é o Evangelho? O que é o Evangelho? Nas palavras do Dr. Tim Keller, pastor da Redeemer Presbyterian Church, o Evangelho é: "Eu sou aceito através de Cristo e então obedeço". Todas as demais Religiões propõe como mensagem: "Obedeça e então será aceito".

Isso revela o fato de que o coração do ser humano está profundamente contaminado pelo princípio da religião que nos leva a uma continua busca de "alto-salvação", como resultado de nossa morte espiritual. E mesmo depois que aceitamos a Cristo (ou dizemos que o aceitamos) sofremos com o impulso de retornar a depender da "auto-salvação".

Citando mais uma vez o desenvolvimento de uma reflexão de Tim Keller, nós devemos comunicar o Evangelho claramente. Nem através do legalismo e nem através do liberalismo. Legalismo/moralista é verdade sem a graça (portanto não é verdade real); relativismo/liberal é graça sem verdade (portanto não é graça real). Optar por um ou por outro irá fazer com que nosso ministério falhe, pois perderemos o poder que transforma vidas.

No texto de Atos 15.1-35 nós nos deparamos com uma situação histórica que envolveu a igreja no primeiro século e que pode nos ajudar a entender o que é o Evangelho que temos que pregar.

A questão é que Paulo e Barnabé, que estavam envolvidos com a missão de pregar o Evangelho aos gentios, são surpreendidos por um grupo de pessoas que vieram de Jerusalém para Antioquia e começaram a ensinar que os gentios convertidos, para garantir sua salvação, deveriam assumir a cultura judaica se circuncidando e guardando a Lei de Moisés.

O resultado dessa situação é que Paulo e Barnabé confrontaram esse ensino e a igreja de Antioquia os enviou a Jerusalém com outros irmãos para tratarem dessa questão. Em meio a toda a discussão e análise, tanto Pedro quanto Tiago, se posicionaram contrários ao legalismo que os membros do partido dos fariseus, que se converteram e estavam na igreja, queriam impor sobre os gentios.

Então, por um lado, o Evangelho que temos que pregar é sobre o que Deus fez em Jesus Cristo para nos perdoar e aceitar. Não é sobre os esforços pessoais que temos que fazer para garantir nossa aceitação por Deus.

Quando nosso enfoque está no que as pessoas precisam fazer o máximo que conseguimos é uma suposta reforma moral. Podemos levar as pessoas a se comportarem dessa ou daquela maneira, mas isso não significa que houve mudança de coração, transformação de vida. As pessoas, mediante o legalismo, podem assimilar comportamentos, mas continuarão se sentindo angustiadas e precionadas pelo medo, pois no fundo do coração não houve mudança, não experimentaram, pelo poder do Espírito Santo, o verdadeiro amor que lança fora todo medo (1João 4.18).

Por outro lado, uma leitura desatenta de Atos 15 pode nos levar a achar que o Evangelho é, portanto, a experiência com uma realidade que nos deixa bem com nossa própria vida e que estamos com Deus devido ao seu amor por nós, e isso não trará nenhuma implicação comportamental para nossa existência. No entanto, se obeservamos o texto com a devida atenção veremos que essa constatação não é endossada.

Primeiro, mediante o discurso de Pedro fica claro que Deus operou através do Espírito Santo uma mudança na vida dos gentios, como operara na vida dos judeus. Que a graça de Deus em Jesus trouxe mudança para o coração de todos, coisa que o legalismo não pode fazer (Atos 15.7-11).

Segundo, o discurso de Tiago reforça o fato de que Deus operou na mudança de vida dos gentios, assim como operou na mudança de vida dos judeus, e isso implicaria em considerarem a mudança em determinadas práticas de suas vidas, por terem se convertido (Atos 15.13-21).

Terceiro, no verso 12 temos o testemunho de Paulo e Barnabé a respeito dos sinais e maravilhas que Deus havia operado entre os gentios por intermédio deles. Se lançarmos nossos olhos para o Novo Testamento poderemos encontrar alguns exemplos do que Paulo e Barnabé se referiam aqui. Textos como Atos 19.11-20; Romanos 15.17-20; 1Coríntios 6.9-11, são alguns que demonstram como Deus operou poderosas mudanças na vida das pessoas.

Concluímos com essas considerações que o Evangelho é o poder de Deus que gera uma nova vida em todos aqueles que ouvindo se abrem a ele. Esse poder é composto pelo equilíbrio entre a graça e a verdade.

Se estamos atraindo pessoas para as nossas igrejas com a pregação de qualquer coisa menos que o Evangelho, que confronta a auto-suficiência humana, por um lado, e a licenciosidade liberal, por outro lado, não estamos fazendo seguidores de Jesus Cristo.

O Evangelho cativa as pessoas no estado que se encontram, demonstra a insuficiência humana e torna o grande amor de Deus ressaltado, levando as pessoas a dependerem desse amor e acolhidas por ele em Jesus Cristo, desejarem obedecer ao Senhor, buscando um novo estilo de vida.

Diante de tamanha demanda quem é que pode se sentir suficiente para essa tarefa? Eu não! Mas, como o apóstolo Paulo afirmamos que "temos esse tesouro em vasos de barro" (2Coríntios 4.7). Jesus, o supremo evangelista e pastor é aquele que edifica a sua igreja de modo que as portas do inferno não podem prevalecer contra ela. Ele é quem nos envia a todas as nações para fazermos novos seguidores para ele.

Uma vez que Jesus vai na frente temos toda a esperança do mundo!

Ricardo Costa

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