segunda-feira, 20 de outubro de 2008

APRENDENDO COM MARIA E MARTA: O que ainda nos falta hoje?


O texto que estou postando hoje é de autoria de minha amada esposa, Susy Costa. Foi uma palestra dada por ela no "Encontro de Mulheres da Comunidade Presbiteriana de Vinhedo".

INTRODUÇÃO:

Passamos todo esse tempo juntas, com a proposta de firmarmos um relacionamento íntimo e significativo umas com as outras. Também fomos desafiadas a nos engajarmos em um projeto evangelístíco que faça diferença pra nossa comunidade e cidade trazendo justiça e paz onde moramos. E creio que estamos realmente motivadas a realizar a missão que Deus tem nos dado de estender o seu reino sobre a terra apartir de onde estamos. Eu realmente espero que isso aconteça primeiro porque somos todas, parte de um mesmo corpo e segundo porque Deus nos criou para as boas obras. (Efés. 2:10)
Mas nada disso será relevante ou transformador, se o fizermos apenas por nossas próprias forças. Até poderemos tentar fazer, mas se tornará um fardo muito pesado para nós. E acabaremos por nos frustrar, ficando com uma terrível sensação de cansaço, vazio, exploração e falta de propósito pra tanto esforço.
Vamos ver o que Jesus tem pra nos dizer?
Ele diz que ”apenas” dois mandamentos devem reger a nossa vida: ame o Senhor teu Deus de todo o seu coração de toda a sua alma, de todo seu entendimento e de todas as suas forças. E “ame ao seu próximo como a si mesmo” (Marcos 12: 30 e 31). Porque o Pai nos dá esses mandamentos e Jesus diz que a lei se resume neles? Porque ele nos criou pra nos relacionarmos com ele e uns com os outros como ele se relaciona com a trindade. Com intimidade, respeito, verdade e amor. E se cumprirmos esses dois mandamentos como convém ao Senhor, todos os outros serão automaticamente cumpridos!
Então o que isso significa?
Lá em João 15 Ele nos trás a figura da videira. E nos fala o quanto é fundamental e necessário estarmos ligados à videira. E mais; ele nos afirma por meio dessa figura tão fantástica, que nada, mas nada mesmo, nós podemos fazer se não for através dele e de acordo com a sua própria vontade.
Vamos ver o texto?
Jesus nos afirma que ele só pode fazer o que vê o Pai fazendo. O que significa que se fizermos muitas coisas, mas se não estivermos ligados à videira, não fizemos nada de útil. Podemos fazer o melhor e com a maior qualidade ou com grande esforço e nada se aproveitará ou frutificará. Mas quando praticamos as boas obras para as quais fomos criadas, porém ligadas à videira, então saberemos que nosso trabalho não foi feito em vão e que seremos recompensadas por isso. E é sobre isso que quero conversar com vocês...
Em Lucas 10: 38 a 42 vemos a história de duas irmãs muito diferentes uma da outra: Marta e Maria, mas que poderiam perfeitamente ter os nomes de Cida e Susy, ou de Carmem e Elizabeth, ou de Sandra e Sueli... Poderia ser qualquer uma de nós.
Marta e Maria eram amigas bem próximas de Jesus... Elas estavam intimamente ligadas a videira. E apesar de serem irmãs, tinham características bastante diferentes, assim como nós. Não podemos dizer que uma era errada e outra certa. Eram apenas diferentes com seus pontos fracos e fortes.
Era mais ou menos assim:
“Maria era a luz do sol para os trovões de Marta. Ou Maria era o freio da locomotiva Marta. Maria era a cigarra enquanto Marta era a formiga. Maria ia cheirar as rosas enquanto Marta passava colhendo-as para fazer um lindo arranjo no vaso da sala. Maria passava o dia bordando toalhas e roupas para a casa, mas Marta... Marta não tinha tempo para isso”. (Joanna e Susy).
Não é assim também entre as irmãs de hoje? Uma gosta mais da cozinha e outra da arrumação da casa. Uma é mais falante e a outra é mais introvertida, uma é mais elétrica, rueira e a outra gosta mais de ficar em casa lendo um bom livro. Lá em casa era assim também e na sua?
Ambas eram hospitaleiras e gostavam de ter a casa cheia de amigos. Elas tinham muitos amigos... Entre eles, o mais querido era Jesus.
Nessa história, aprendemos com Marta e Maria que para permanecer na Videira (Jesus) precisamos:
1- Ter um coração atraído por Jesus.
Marta abre sua casa ao Senhor com o maior prazer, mas para ela isso implicava em muito serviço e de ótima qualidade. Joanna, a autora do livro base do nosso estudo, a compara com a mulher virtuosa de prov. 31. Sua maior característica era o dom do serviço. Servir também era uma forma de se sentir amada e aceita. Mas isso muitas vezes lhe parecia pesado de mais. Já Maria, era puro relacionamento. Para ela, mais importante que fazer, era estar com... Mesmo que muitas vezes ela fosse mal compreendida. Tida como irresponsável ou folgada. Ela não perdia a oportunidade de parar para ouvir as pessoas ou aprender com elas. O que lhe servia de vantagem, porque ela já era propensa a isso. Porém, ambas tinham a Jesus por perto.
Uma visita especial!
Certa ocasião, Jesus passando pela casa delas, como era de costume, foi vê-las e lá se hospedar por um tempo. Ao chegar acompanhado de todos os seus discípulos, foi logo recepcionado por Maria, que fez o máximo para fazê-los sentir-se acolhidos e bem vindos em seu lar (serviço). Ela os recebeu, pegando os seus cajados, lhes oferecendo água e toalha para se lavarem, acomodando-os ao redor da mesa, sobre as almofadas macias, oferecendo água, ou vinho pra beberem, enquanto esperavam pelo jantar... Enquanto isso, Marta estava na cozinha mais atarantada do que nunca! Cheia de coisas na cabeça e nas mãos, sem saber pra onde correr e o que fazer primeiro, afinal o mestre já havia chegado e ela ainda não estava com a janta pronta. No meio dessa correria, ela se dá conta que estava só, com tudo por fazer. E afinal de contas, onde estaria a sua irmã que não vinha ao seu encontro para ajudá-la? O que estaria ela fazendo?
Enquanto isso, Maria ouvindo Jesus falar com seus discípulos, foi ficando cada vez mais encantada. Nunca ouvira alguém falar como ele. Tanta ternura, tanto amor, tanta autoridade! Quanto mais ela O ouvia, mais presa ficava em suas palavras, e devagar foi se chegando até ficar sentada aos seus pés. Esquecera completamente de Marta, da cozinha, de que era uma mulher em meio aos homens, de sua reputação ou qualquer outra coisa ao seu redor. Ela só conseguia beber de Jesus.
Marta cansa de esperar e vai atrás de Maria.
Qual não é a sua surpresa quando ela procura por Maria e a encontra bela e folgada ascentada aos pés de Jesus ouvindo seus ensinamentos. Ela não podia acreditar no que via. Só essa que faltava, ela cheia de coisa pra fazer e Maria lá sentada! Fica muito indignada com aquela situação e corre se queixar ao Senhor.
2- Ter um coração que leva suas mágoas ao Senhor.
Marta pergunta ao senhor em Lucas. 10: 40 e 41: “Senhor, não te importa que minha irmã tenha me deixado sozinha com todo o serviço?”
Obs: se você for como eu, quando muito cansada, sente-se profundamente magoada e com uma enorme vontade de chorar. Se visse uma cena como aquela então, ia morrer de raiva, me sentiria explorada, injustiçada. Principalmente, porque no meu caso, tenho um temperamento mais parecido com o de Maria, do que com o de Marta... Então, além de tudo eu estaria morrendo de inveja de Maria.
O trabalho da cozinha não é fácil. É desgastante e exaustivo. Vc é a primeira a levantar e a última a se deitar por causa da cozinha e quando o nosso foco está fora do lugar, este fardo torna-se insuportável, mesmo para as “martas”. Ficamos tão cansadas que tudo que conseguimos é chorar e nos perguntar porque estamos ali? Qual a razão de continuarmos? Então, nos sentimos injustiçadas. Ficamos indignadas e iradas com a outra, porque a culpamos por estar tranqüilas e curtindo do bom e do melhor a nossas custas, enquanto nós estamos nos acabando de tanto trabalhar. Por vezes, acabamos brigando, nos ferindo, nos magoando e magoando a outra, porque não damos conta de carregar tamanho fardo. Isso só piora a situação. Mas quando levamos nossa queixa ao Senhor como Marta fez, então temos a oportunidade de sermos curadas e transformadas.
Mas o que é a cozinha?
A cozinha é a nossa vida! É o nosso corre, corre de todo dia! Trabalhando dentro e fora de casa na maioria das vezes, passamos de Motoristas de filhos a dona de casa, (ou seria do trabalho da casa)? De empresária a faxineira, de chefe a esposa submissa. É comida, roupa, limpeza, deveres que não acabam mais. E pra piorar, ainda querem o “resto” de tempo que temos, se é que sobrou algum, trabalhando na igreja! Quando vamos ter um tempo pra descansar? Ou pra se divertir? Ou pra nós mesmas? O problema é que tentando controlar, perdemos totalmente o controle! E aí, como diz uma amiga minha, ficamos “exauridas”.
3- Ter um coração aberto a correção do Senhor.
Marta estava exausta! E muito irritada, com Maria e com o Senhor, que afinal, deixou que Maria ficasse ali com ele. Então ela se põe a reclamar com o Senhor que com amor e firmeza responde a queixa de Marta: “Marta! Marta! Vc está preocupada com muitas coisas; todavia apenas uma é necessária. Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada”. Lucas 10: 41.
Qual seria sua reação se fosse com você?
Imagine-se nessa situação, reclamando com seu líder na comunidade... Se ele te desse a mesma resposta, como se sentiria? Talvez brigasse com seu líder e dissesse que estava sendo injustiçada. Talvez nem quisesse mais trabalhar na igreja. E se fosse em casa com seu filho ou marido? Mas Marta não ficou injuriada com o seu Senhor, ela acolheu a sua repreensão. Porque Marta confiava no amor de Jesus por ela e porque tinha um coração humilde e ensinável.
Precisamos aprender com Marta, e recebermos a correção do Senhor. Em provérbios 3: 12 diz: pois o Senhor disciplina a quem ama... Essa atitude trás transformação e cura.
Mas o que Marta aprendeu?
O que Jesus está dizendo a Marta?
Que ela não precisava mais ligar pra nada e deixar tudo ao deus dará? Abandonar a casa, a família, o trabalho, a missão e o seu dom de servir, e não fazer mais nada além de se ascentar aos pés do Senhor em contemplação e adoração?
Certamente que não!
Jesus estava falando de um relacionamento de dependência e confiança nele. Estava falando de um relacionamento de amor. Falava da melhor escolha. Da única escolha. Estar ligada a videira.
Uma só coisa é necessária e Maria escolheu a melhor parte. Ambas tinham a mesma oportunidade de escolha. Jesus é tudo de que elas precisavam, assim como seus discípulos, assim como cada uma de nós.
4- Ter um coração controlado pelo Senhor.
Queremos adorar como Maria, mas a Marta dentro de nós continua a nos controlar. Marta queria receber Jesus, desde que estivesse no controle da situação. Se ascentar junto com sua irmã e deixar que Jesus assumisse o controle da situação, estava fora de cogitação. Afinal, era sua responsabilidade, ela era a cozinheira. A janta era por sua conta. Não era hora de conversar. Não é assim com a gente? Mas Jesus não alimentou mais de cinco mil pessoas sem a ajuda de Marta? E na hora certa, também não colocou os seus discípulos para servir? Porém nós insistimos em manter o controle e por isso ficamos esgotadas em nossas forças. E sem forças, passamos a ignorar o convite do Senhor para nós. Ou pior, como Marta estamos muito ocupadas para a sala de estar. Toda a nossa energia se foi, não sobrou mais nada de nós mesmas para o Senhor. Não temos tempo para a sala de estar e nem disposição para estarmos aos seus pés em adoração, aprender com ele ou simplesmente estar com ele.
5- Ter um coração curado e transformado pelo Senhor.
João 11: 1 ª 44 Marta nos mostra o quanto ela aprendeu com Jesus. Lázaro havia morrido e sua casa estava cheia, Jesus não chegara a tempo de salvar o seu irmão, mas desta vez, sabendo que Jesus havia chegado, ela larga os seus amigos e corre para Jesus, buscando por socorro e consolo. Agora, ela sabia a diferença entre o importante e o urgente. Nada era mais importante naquele momento que estar com Jesus (v.20). Mas, Maria que tranqüilamente se ascentava aos pés de Jesus, agora se via desanimada e triste demais para buscar o seu Senhor, deixou as circunstâncias controlarem seus sentimentos (v.20b). Quem diria, Marta agora passa a perna em Maria! Marta aprendeu a lição! Mas Maria também aprende a servir, no verso dois do cap. 11 de João, também vemos Maria servindo o seu Senhor, quando unge os seus pés com o perfume e os seca com seus cabelos.
Conclusão:
Jesus cura e transforma essas duas irmãs, porque elas estavam sujeitas ao seu senhorio e governo. Ele quer fazer o mesmo comigo e com você. Então, vamos nos ligar a Videira, para que comecemos a dar frutos. Vamos começar a levar a vida de maneira que Jesus possa se espalhar por toda parte. Vamos começar a amar de tal maneira que as pessoas apontem nossas vidas e digam: “eu sei quem você é!” Ou melhor, ainda, “eu sei de quem vocês são!” - porque elas vêem em nós o nosso Senhor e o seu amor! Vêem em nós a Sua Santa Presença!
AMÉM!

sábado, 11 de outubro de 2008

A Experiência do Deserto


Em Marcos 1.12-13, encontramos, de modo resumido, a presença de Jesus no deserto. No relato da tentação de Jesus no Evangelho de Marcos fica claro que foi o Espírito Santo quem levou Jesus para o deserto. É possível que para os judeus e crentes primitivos, a necessidade de um passo para o deserto fosse considerado um elemento importante do crescimento dos líderes espirituais. Moisés havia passado 40 anos no deserto antes de conduzir os israelitas na saída do Egito e guiá-los na conquista da terra prometida. Muitos outros reconhecidos personagens bíblicos também tiveram sua passagem pelo deserto. Na solitude, na carência de alimentos, em meio a intempéries, Jesus vai confrontar-se com sua personalidade e especificamente com suas debilidades. Satanás o tentou com os impulsos humanos básicos: os desejos da carne, os desejos dos olhos e a vanglória da vida (1João 2.16). Não foi um mero jogo de palavras. Se Jesus ia cumprir com a missão que o Pai o encarregou na terra, então, como homem devia vencer suas inclinações naturais e isto sempre implica em dor profunda.

O PODER TRANSFORMADOR DO DESERTO.

O deserto é o lugar dos imponderáveis, a esfera onde não temos controle das situações. Estamos separados do conhecido, estamos sós, sentimos pânico e uma imensa dor. Os homens primitivos se preparavam para os momentos difíceis mediante os rituais de iniciação. Jesus se preparou durante um período de 40 dias de permanência no deserto, cercado por feras e assediado por Satanás. Hoje em dia homens enfrentam essas situações de deserto, essas situações aonde perdemos o controle, mas na maioria das vezes isso acontece de modo repentino e inesperado em nossas vidas e por isso são enfrentadas sem a adequada preparação. Desemprego, divórcio, enfermidade, acidentes, traição, são situações que produzem dores indescritíveis e difíceis de ignorar ou esconder.

Na experiência do deserto, a maioria de nós homens carecemos das ferramentas para confrontar a dor emocional e espiritual, mas por outro lado ela pode nos proporcionar o contexto necessário para adquirir tais ferramentas. Se ocultarmos nossas dores ao invés de lidar com elas, estaremos acalentando a confusão, a depressão, a desmotivação, e as lições que poderíamos aprender no deserto se perderão.

A experiência do deserto é um passo para a maturidade da nossa espiritualidade masculina. Quando estamos no meio de uma situação inesperada, quando nos sentimos sós, cheios de dor e atemorizados, quando sentimos fome e sede espiritual tremenda, então vem a nossa mente as perguntas fundamentais: O que amamos? O que valorizamos? O que podemos eliminar de nossas vidas? Quais são as nossas debilidades? Como somos tentados? Como encontramos a Deus em meio a tentação?

De acordo com os registros da tentação em Mateus e Lucas (Mateus 4.1-11; Lucas 4.1-13), é possível reconhecer quatro princípios que são aprendidos nos momentos em que nos encontramos no deserto e precisamos amadurecer:

1. A experiência da humilhação (2Coríntios 12.9). Deus resiste aos soberbos e dá graça aos humildes.
2. A experiência da fome (Mateus 5.6; João 6.48). Somente os famintos podem ser fartos, somente os enfermos podem ser curados.
3. A experiência da tentação. No geral somos tentados em nossas próprias debilidades (Tiago 1.14). O deserto e um tempo de purificação.
4. A experiência do regresso (Lucas 4.14). Quando saímos do deserto não somos mais os mesmos. Uma nova identidade se forma em nossa vida. Um novo pode será liberado.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A ORAÇÃO DE JABEZ E A VIDA MISSIONAL


Introdução


Alguns anos atrás o pastor e professor de Bíblia, Bruce Wilkinson, escreveu um pequeno livreto intitulado “A Oração de Jabez”. O livreto tornou-se um best seller com mais de 9 milhões de exemplares vendidos só na América do Norte.

O livreto foi traduzido para vários idiomas, incluindo o português, e foi editado no Brasil pela Mundo Cristão, já estando na sua 13ª. Impressão em 2008. O livreto é baseado em um pequeno trecho do Antigo Testamento, 1Crônicas 4.9-10, que menciona a figura de um dos descendentes de Judá chamado Jabez, e que diz que o mesmo foi “mais ilustre do que seus irmãos...”.

A reação ao livreto de Wilkinson tem sido as mais variadas. Muitas pessoas o têm adquirido, lido e depois feito da “Oração de Jabez” uma espécie de “chave mágica” para resolver os problemas de sua vida. Outros, em contra partida, já lêem o livreto com um certo preconceito e procurando encontrar as “heresias” nele contidas.

Você já leu o livreto? Eu li e, particularmente, gostei muito das propostas de Wilkinson e minha intensão nesse texto é tentar demonstrar quais são de fato as teses que o autor está propondo em “Oração de Jabez”, visando de alguma maneira ajudar você a entendê-lo corretamente e a ser abençoado pelos princípios da Palavra de Deus que estão nele contidos.

Antes de iniciar minhas considerações entendo que é importante esclarecer o que Wilkinson não está ensinando no livro e que algumas pessoas, seja a favor ou contra as idéias que vou apontar, dizem que ele está ensinando.

Primeiro, o autor não está defendendo a “Teologia da Prosperidade”, acho que tal conceito foi gerado na cabeça de alguns devido ao subtítulo do livro, “Alcançando a Bênção de Deus”, pelo fato de que na cabeça de muitas pessoas (principalmente evangélicos) a palavra bênção refere-se a coisas que me agradam, desejos que tenho e que quero ver satisfeitos, e em alguns seguimentos, principalmente o que se almeja alcançar materialmente.

No entanto, basta ler o livro e de cara já fica explicito pelo autor de que as bênçãos as quais ele se refere tem a ver com uma vida de maior devoção a Deus e compromisso com a missão de Deus no mundo.

Segundo, o autor não está legislando que suas experiências, ou as experiências que ele descreve no livro são a regra para todas as pessoas. Ele compartilha experiências para exemplificar princípios e cada um de nós deve focar nos princípios e viver nossas próprias experiências.

Terceiro, em nenhum momento o autor apresenta o livro como uma “chave mágica” que sendo usada resolverá todos os seus problemas. Quando ele fala de se ter o livro na “cabeceira da cama” e lê-lo sempre, ele o faz pensando nos princípios que você deve assimilar para a sua vida. Ele não está dizendo para ficar repetindo literalmente a oração de Jabez, mas está, a partir da análise do texto bíblico que narra a oração feita por Jabez, tirando princípios valiosos para que possamos ter vidas frutíferas para a glória de Deus.

Dito isso, gostaria de apontar quais são esse princípios e como é que eles estão diretamente relacionados ao chamado de Deus para que tenhamos uma vida missional. Para tanto, vou seguir as mesmas divisões propostas pelo autor, apenas elucidando o que o mesmo já propôs em seu livro.

I. Pedindo as bênçãos de Deus.

Em sua introdução, Wilkinson faz a seguinte colocação:

Qual foi a última vez que Deus atuou através de você de tal modo que você reconheceu tratar-se indubitavelmente de uma ação divina? Sendo mais especifico, quando foi que você viu milagres acontecendo com regularidade em sua vida? Se você é como a maioria dos cristãos que conheço, você não sabe pedir esse tipo de experiência, nem se deve fazê-lo.

Eu concordo plenamente com a colocação do autor! A maioria das pessoas que se dizem cristãs e que estão freqüentando uma igreja não tem vida extraordinária. A maioria de nós não vive a vida abundante que Jesus Cristo prometeu que viveríamos, não sabemos como ser “naturalmente sobrenaturais”.

Isso pode ofender vários de nós, mas é a mais pura verdade. E aqui começamos a nos deparar com o primeiro ensino do autor, e o primeiro desvio que muitos fizeram no livro.

A primeira ênfase do livro é que devemos pedir e buscar as bênçãos de Deus para a nossa vida. Isso não está contrário ao ensino de Jesus Cristo que disse em Mateus 7.7-12 que deveríamos “pedir, bater e buscar”, pois Deus é bom e quer dar boas coisas àqueles que o buscam.

A questão que precisa ser levantada aqui é qual o significado de “bênção” para o autor? Encontramos a resposta para isso na página 26:

Quando buscamos a bênção de Deus como valor máximo para a nossa vida, estamos nos jogando de corpo inteiro no rio da vontade de Deus, de seu poder e de seu propósito para nós. Todas as demais necessidades se tornam secundárias diante daquilo que realmente queremos: ficar totalmente imersos naquilo que Deus está tentando fazer em nós, através de nós e ao nosso redor, para a sua glória.

Fica absolutamente claro que bênção não tem nada a ver com aquilo que almejamos egoisticamente para nós mesmos, conforme proposto pela Teologia da Prosperidade. Bênção tem a ver com viver uma vida comprometida em buscar, bater e pedir por aquilo que Deus está realizando para a sua glória.

A implicação apresentada por Wilkinson sobre essa primeira questão é que nossas vidas serão marcadas pelo milagre, pelo poder sobrenatural de Deus, ou, em uma outra linguagem, pelos sinais do Reino de Deus que está entre nós.

Também aqui não vejo nada de errado com o ensino do autor, pois essa é a promessa que Jesus nos fez. Veja, por exemplo, João 14.12-14:

Digo-lhes a verdade: Aquele que crê em mim fará também as obras que tenho realizado. Fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu estou indo para o Pai. E eu farei o que vocês pedirem em meu nome, para que o Pai seja glorificado no Filho. O que vocês pedirem em meu nome, eu farei.

Nesse ponto Wilkinson conta uma pequena estória como ilustração de alguém que morreu e chegou ao céu e conheceu o que eu chamo de “celeiro das bênçãos retidas” (conheço essa estória já há muito tempo e já a contei repetidas vezes) para enfatizar a necessidade de se pedir.

A linha de raciocínio parte do fato de que Jabez orou pedindo para ser abençoado e por isso o foi. Alguns argumentam aqui que isso não tem nada a ver, que Deus sabe do que precisamos e que ele nos dará pedindo ou não. Aqueles que seguem esse raciocínio erram por não conhecer as Escrituras com profundidade.

É verdade que Deus é soberano e é justamente por isso que precisamos pedir. Pois, em sua soberania, ele determinou que algumas de suas ações só seriam efetivadas em nossas vidas e na história se nós pedíssemos por isso (cf., por exemplo, 2Crônicas 7.14 e Tiago 4.1-3). Portanto, o ensino do livro não está equivocado sobre a necessidade de pedirmos bênçãos para Deus. O que está equivocado é o que muitos vêem e entendem por bênçãos. Esse ponto também é esclarecido pelo próprio autor quando na página 29 diz: “Se você não pede a bênção de Deus, deixará de receber aquelas que são concedidas apenas mediante seu pedido.” O que significa que tem bênçãos que são concedidas independentemente de nossos pedidos (cf. Mateus 5.45).

II. Pedindo por maior influência.

A segunda argumentação do autor nasce do pedido de Jabez para que o Senhor alargasse as suas fronteiras. Wilkinson relaciona esse pedido ao princípio de desejarmos ter uma vida que cause maior impacto para Deus.

Isso está relacionado, portanto, a missão. Relaciona-se ao motivo pelo qual vamos viver nossas vidas. A grande verdade é que este ponto inquieta alguns de nós, porque o nosso coração é dividido. Estamos acostumados com uma vida religiosa, onde nossa relação com Deus é desenvolvida dentro de um ambiente demarcado e seguro. Uma vida vivida ao lado de outras pessoas que pensam como nós, ou pelo menos, que também acreditam em Deus como nós.

Mas o que Wilkinson propõe aqui é que nossa vida cristã, nossa vida com Deus, vá além das nossas reuniões religiosas, vá além de nossas programações que nos agradam e que nos entretém. Na página 35 ele diz que independente de qual seja a nossa vocação profissional as coisas começarão a acontecer de modo dinâmica em nossa vida missional com Deus quando orarmos mais ou menos assim:

Ó Deus e Rei, peço-te que expandas minhas oportunidades e meu impacto de tal maneira que eu possa alcançar mais vidas para a tua glória. Permita-me fazer mais para ti!

Mais uma vez não posso discordar do ensino do autor. Esse é o desejo de Deus para minha vida e para a sua. Se formos seguidores de Jesus Cristo, então, precisamos nos lembrar que vivemos para estender sua influência sobre o mundo em que vivemos, para anunciar que o Reino de Deus chegou e para fazer novos seguidores de Jesus de todas as nações da terra (cf. Mateus 28.16-20).

Essa parte do livro continua discorrendo uma série de exemplos de experiências vivenciadas pelo próprio autor que fundamentam a tese de que somos chamados para viver de uma maneira que a influência do Reino de Deus seja estendida através de nós e que quando estamos envolvidos com isso nossa vida se torna marcada por milagres.

Milagres não têm a ver apenas com manifestações sobrenaturais, mas com as intervenções de Deus em nossa vida, relacionamentos e rotina, levando seu amor através de nós a pessoas que estão ao nosso redor. Deixe-me citar algumas das colocações de Wilkinson sobre essa questão para elucidar que sua proposta quando fala de “alargar as fronteiras” tem a ver com o avanço do Reino de Deus:

· Nosso Deus é especializado em trabalhar através de pessoas comuns que crêem num Deus sobrenatural que vai cumprir sua obra através delas (pg. 45).

· Quando você começar a pedir com sinceridade – a implorar mesmo – por mais influência e responsabilidade para, com isso, honrar a Deus, o Senhor vai colocar oportunidades e pessoas em seu caminho. Você pode confiar que ele nunca vai mandar alguém a quem você não possa ajudar através da orientação e da força do Senhor (pg. 45).

· Orar por fronteiras alargadas é nada menos que pedir um milagre. Um milagre é uma intervenção divina que provoca um evento que normalmente não ocorreria (pg. 47).

· Os milagres mais emocionantes em minha vida aconteceram quando fiz a Deus o audacioso pedido de expandir muito o seu reino. Você não precisa de Deus para dar pequenos passos. É quando você entrega a Deus e se coloca no centro dos planos dele para este mundo – que estão acima de nossa capacidade de executá-los – quando implora a Deus, dizendo Senhor, usa-me! Dá-me um ministério para ti! , que os verdadeiros milagres são desencadeados (pg. 48).

· Deus sempre intervém quando você coloca as prioridades dele acima das suas (pg. 48).

III. Pedindo pelo poder do Espírito.

O próximo pedido de Jabez em sua oração é: “Que seja comigo a tua mão”. Nessa parte do livro o autor vai trabalhar o princípio de que a obra de Deus só pode ser realizada mediante o poder de Deus. Ou seja, somente Deus é quem pode de fato realizar a sua obra, nós apenas somos colaboradores dele no processo.

Seguindo a mesma estrutura, Wilkinson, através do compartilhar de histórias de sua experiência pessoal vai construindo essa sua próxima tese. Demonstra biblicamente que o pedido de Jabez tem a ver com a busca pelo poder de Deus atuando em sua vida, uma vez que a expressão “a mão do Senhor” nas Escrituras, tanto do Antigo como do Novo Testamento, está sempre relacionada ao poder atuante de Deus (cf. Josué 4.24; Isaías 59.1; Atos 11.21). O autor diz na página 53:

Se buscar as bênçãos de Deus é nosso mais elevado ato de adoração e se pedir para fazer mais para Deus é nossa ambição maior, requerer que a mão de Deus esteja sobre nós é a nossa escolha estratégica para que as grandes coisas que Deus está fazendo em nossas vidas se perpetuem e continuem a florescer.

Mais uma vez Wilkinson é muito feliz e lúcido em seus argumentos e na sua dissertação. Em minha opinião pessoal uma das realidades mais deficitárias na vida da igreja no Ocidente em nossos dias é pela presença desse poder vital do Espírito Santo.

Somos uma igreja que se move e que sobrevive em torno de eventos. Espero não ser mal compreendido aqui, mas preciso discorrer sobre isso. Não sou contra a realização de atividades e de programações por parte de nossas igrejas, mas a verdade é que sem essas coisas não sabemos como ser igreja. Sempre estamos à procura de uma nova programação, uma nova dinâmica que possamos oferecer as pessoas.

Discutimos a respeito do tipo de música que devemos tocar ou não tocar, da forma que devemos ou não devemos agir, entre outras coisas, mas falta-nos à presença viva e poderosa do Espírito Santo em nosso viver diário, que torna nossas vidas bonitas e atrativas para os outros.

Jesus disse em João 15.4 que não podemos fazer nada sem ele, portanto precisamos do seu poder. Em João 7.37-39, Jesus refere-se ao fato de que se estivermos nele do nosso interior fluirão “rios de água viva”, e João diz que Jesus se referia à presença do Espírito Santo em nós que ainda não havia sido derramado. Em Atos 1.8 somos lembrados de que a presença do Espírito Santo traz o poder de Deus sobre nossas vidas.

A questão é que hoje já vivemos no tempo onde o Espírito Santo já foi derramado e nem por isso a maioria das pessoas que se dizem seguidoras de Jesus Cristo tem vidas poderosas e sobrenaturais. Por que?

A minha resposta é que, por um lado, nosso coração dividido entristece e apaga a ação e liderança do Espírito Santo em nossas vidas (cf. Efésios 4.30; 1Tessalonicenses 5.19); e por outro lado, como coloca Wilkinson, é porque não pedimos pela presença e poder do Espírito Santo. Isso é o que aprendemos com os autores do Novo Testamento: precisamos buscar continuamente a presença e o enchimento do Espírito Santo em nossas vidas (cf. Atos 4.23-31; Romanos 15.18-19; Efésios 3.16-19; 5.18).

Todos os feitos poderosos de Deus para a expansão de seu Reino estão relacionados à presença e ação do Espírito Santo em seus servos (cf. Atos 4.13; 5.29; 7.51; 9.27). Assim, concordo com a colocação do autor quando diz na página 60:

Ao pedirmos a poderosa presença de Deus, tal como Jabez e a igreja primitiva fizeram, também veremos resultados tremendos que podem ser explicados somente como vindos da mão de Deus.

Fazendo eco a Wilkinson, quando foi a última vez em que sua igreja se reuniu e pediu para ser cheia do Espírito Santo? Qual foi a última vez em que você orou com freqüência e fervor dizendo: “Ó Senhor, coloca tua mão sobre mim! Enche-me com o teu Espírito!”?

Encerro essa porção com a colocação de Wilkinson feita na página 66, pois ela é uma expressão exata do que significa viver missionalmente:

Deus busca com zelo àqueles que são sinceramente leais a ele. Nossa parte resume-se em fornecer-lhe um coração fiel.

Um simples apelo trará para você e para mim os inexplicáveis feitos do Espírito. Pelo toque divino você pode experimentar o entusiasmo sobrenatural, a ousadia e o poder. Depende de você.

Peça todos os dias o toque do Pai.

Porque, para o cristão, dependência é apenas um sinônimo de poder.

Jesus disse: “permaneçam em mim, sem mim nada podeis fazer”. A verdade é uma só se não estamos frutificando para ele, ou não estamos permanecendo nele, ou ele mentiu. Não acredito que Jesus mentiu, portanto, sempre que não frutifico sei que a razão é que eu não tenho permanecido nele.

Você tem visto em sua vida o abundante fruto do Espírito Santo? Tem vivido diariamente uma vida marcada pelo poder de Deus? Isso não quer dizer que nossa vida será marcada o tempo todo por eventos sobrenaturais, mas significa que nós seremos naturalmente sobrenaturais.

IV. Vencendo a verdadeira guerra.

O último pedido de Jabez é: “E me preserves do mal”.

A partir dessa frase o autor do livro vai trabalhar toda a questão relacionada à temática da batalha espiritual. Ele nos lembra que muitos homens e mulheres de Deus, após terem galgado uma vida cheia de vitórias no ministério e na caminhada com Deus, acabaram caindo.

Até esse ponto do livro a ênfase é pela busca de uma vida que gere frutos para a glória de Deus, e isso envolve receber um poder sobrenatural para trabalharmos para Deus apesar de nossas fraquezas. “Neste capítulo, rogamos por proteção sobrenatural contra Satanás e contra a capacidade dele de fazer-nos chegar em segundo lugar” (pg . 68).

O ensino de Wilkinson mais uma vez se mantém centrado em uma boa tradição bíblica e teológica, pois há muitas histórias nas Escrituras que exemplificam a realidade dessa batalha espiritual e o potencial de sermos derrotados nela se não estivermos atentos.

O autor nos lembra que se realmente começarmos a viver comprometidos com o Reino de Deus a batalha espiritual será intensificada em nossas vidas. Enfrentaremos mais ataques dirigidos a nós e a nossa família. A Bíblia está cheia de advertências sobre a vilania de Satanás e suas estratégias malignas.

Somos exortados a não buscarmos forças para enfrentarmos a tentação, mas para suplicar ao Pai que nos livre dos ataques do Maligno, assim como Jesus nos ensinou a orar no que convencionamos chamar de “Pai nosso”. Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal! Livra-nos do Maligno! (Mateus 6.13).

O apóstolo Paulo nos instrui em suas cartas a termos consciência dessa batalha e estarmos sempre prontos para encará-la, nos submetendo a Deus e nos revestindo de toda a armadura de Deus, que é o reconhecimento e acolhimento da obra de Cristo em nosso favor (cf. Efésios 6.10-18; 2Coríntios 10.4-6).

Wilkinson chama a nossa atenção para o fato de que não há como lidar com a tentação usando nossos recursos humanos como a nossa sabedoria, a nossa experiência ou os nossos sentimentos. Ele nos lembra que apenas os recursos espirituais que recebemos de Deus é que nos capacitará a sairmos vencedores dessa situação.

Mais uma vez ele compartilha algumas de suas experiências pessoais, e devemos nos lembrar que seu objetivo não é que você procure imitar suas experiências, mas compreenda os princípios que ele está compartilhando e que estão por detrás das experiências narradas.

Entendo que há base bíblica suficiente para percebermos que a realidade do mundo espiritual inclui esse escopo de um “exército” que procura interferir no que Deus está construindo em nós e através de nós como cidadãos do seu Reino.

Lembro aqui que essa batalha não se manifesta apenas contra Satanás, mas também contra a nossa carne (que continuamente se rebela contra o governo de Deus em nós) e com o sistema mundano (que caminha de modo antagônico ao que o Reino de Deus nos propõe).

Devemos tomar cuidado com a arrogância e o orgulho espiritual, pois como diz as Escrituras: “a soberba precede a queda”. É necessário que tenhamos uma atitude humilde diante de Deus e do próximo, reconhecendo que nunca sabemos o suficiente e que sempre precisamos ouvir e seguir a direção espiritual de Deus.

Não há virtude alguma em se expor à tentação e vencê-la. Conforme o apóstolo Paulo orientou seu jovem pupilo Timóteo, devemos fugir das paixões da mocidade (2Timóteo 2.22). Precisamos reconhecer que diariamente somos tentados a dividir nosso coração e a dar espaço a outras realidades além do nosso anelo por Deus. Precisamos também crer que em Cristo somos mais que vencedores e por isso não precisamos temer ao Maligno, pois se nos achegarmos a Deus teremos condições de resistir a Satanás de modo que ele fuja de nós (Tiago 4.7).

Na verdade a proposta de Wilkinson, mais uma vez, está completamente fundamentada no ensino de Jesus Cristo e da palavra de Deus que nos diz que do nosso coração é que procedem as fontes da vida, tanto o bem como o mal e, portanto, devemos lidar com a fonte de nosso pecado, a insubmissão de nosso coração. Se evitarmos a tentação não teremos porque lidar com o pecado.

Caminhando para a conclusão de seu livreto, Wilkinson, nos estimula a desejar uma vida que faça real diferença para o Reino de Deus. Muitos acham que Deus trata e se relaciona com todos da mesma maneira. Pois bem, eu não entendo isso assim e não vejo base bíblica para tal consideração.

De fato, no que diz respeito à regeneração, Deus trata todos da mesma maneira, mas a partir daí há uma diferença entre aqueles que anseiam por Deus de todos o seu coração e que tem o seu coração completamente entregue a ele e aqueles que tem seu coração dividido entre Deus e o que desejam para si mesmos (cf. Tiago 4.4-8; Salmo 25.14).

Homens e mulheres que fazem parte da galeria de honra de Deus são aqueles que já se renderam por completo ao fascínio de Jesus Cristo e do seu Reino. Somos lembrados pelo autor que a única coisa que pode quebrar o ciclo de atuação das obras do Reino em nós e através de nós é nosso próprio pecado.

Jesus disse que devemos permanecer nele. Usando a linguagem de um de meus mentores, é preciso manter a nossa sintonia fina com o Senhor e, para isso, precisamos diariamente analisar o nosso coração e ver quem está no controle dele. Como diz Wilkinson na página 100:

Somos apenas humanos fracos que buscam ser puros e totalmente entregues a nosso Senhor, que querem o que ele quer para esse mundo e que avançam de acordo com o poder e a proteção do Senhor para que isso aconteça agora.

Conclusão

Como disse no início desse meu texto, acredito que o pequeno livro de Bruce Wilkinson, “A Oração de Jabez”, nada mais é do que uma proposta de vida missional para cada um de nós.

Jesus diz que o Reino de Deus é como um homem que coleciona pérolas e que um dia encontra uma pérola de grande valor e que investe tudo o que tem na sua vida para possuí-la.

Minha pergunta é se esse anelo pelo Reino, esse desejo de se ter uma vida que nos faça mais ilustres para Deus é uma realidade no nosso coração. Se respondermos que sim, minha questão é que, assim como afirmou Jesus que é pelos frutos que conhecemos uma árvore, então, a minha e a sua vida devem manifestar os efeitos de alguém que vive com rios de vida fluindo de dentro de si.

Se realmente buscarmos o Senhor de todo o nosso coração e decidirmos que viveremos tão somente para a glória dele, penso que não veremos em nossas vidas nada muito diferente do que Wilkinson propôs nesse livro.

Talvez seja isso que tanto incomoda a alguns! Ter que olhar para a sua vida e admitir a mediocridade de sua fé e de seu compromisso com o Senhor. A verdade é que nós estamos vivendo dias onde, cada vez mais, as pessoas acham que precisam cuidar de suas vidas e de seus interesses pessoais e que Deus é alguém que nos entende.

Na minha opinião esse é o grande problema! Deus nos entende, mas não nos aprova. Ou o temos como o primeiro e único em nossa vida, ou ele será o último. Deus não aceita segundo lugar.

O livro de Wilkinson também não proporciona nenhum fundamento para aqueles cristãos carnais que anseiam encontrar uma formula mágica para que suas vidas sejam vidas melhores, onde melhor significa uma vida sem problemas e dificuldades, onde se alcança tudo o que o nosso coração cobiça, dando a isso o nome de bênção.

Oração de Jabez propõe a mim e a você uma vida extraordinária, um viver que seja naturalmente sobrenatural, por estarmos interessados em buscar o Reino de Deus e sua justiça em primeiro e único lugar. Um viver missional!