Introdução
Aqui vamos nós para nosso terceiro Round no UFC Família. Nosso combate de hoje precisa iniciar com a definição de uma expressão que tem sido usada no contexto missional: “Família estendida”.
O que queremos dizer com isto? Segundo o Pr. Mike Breen:
“Basicamente, o termo família estendida é utilizado, quando uma pessoa se relaciona com outras pessoas além de sua própria família que fazem parte de seu convívio cotidiano, como parentes, amigos e pessoas com quem há interatividade regular.”
Esse é um conceito que temos usado como igreja missional, mas que é observado também no contexto cotidiano. Como mostra este: http://youtu.be/AXXPIk4v6aw
Assim, a idéia de família estendida passa pelo conceito de reconhecermos um grupo maior, que transcende a família nuclear, podendo ser composta por outros familiares consangüíneos ou mesmo amigos.
Por que para a igreja é importante entrar em combate por este conceito de família? Pelo menos por três razões:
Primeiro, porque a conhecida família nuclear tem sofrido com o individualismo de nossa sociedade contemporânea, quando gera a idéia de que se nos tornamos uma família, então, temos que responder individualmente por ela.
Segundo, porque um número cada vez maior de crianças, adolescentes e jovens, frutos da desagregação familiar contemporânea, carecem de referências para suas vidas de relacionamentos saudáveis e de modelos adequados de paternidade, vida conjugal e relacionamento entre os membros de uma família.
Terceiro, porque conforme a Bíblia a própria essência da igreja é a de uma família estendida que expressa o grande e generoso amor de Deus que é derramado sobre nós.
Quando lemos os Evangelhos vemos que o próprio Senhor Jesus apontou para esta dimensão na explicação de sua igreja, expressa primariamente pela comunidade de seus discípulos reunidos ao redor dele.
“Então chegaram a mãe e os irmãos de Jesus. Ficando do lado de fora, mandaram alguém chamá-lo. Havia muita gente assentada ao seu redor; e lhe disseram: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te procuram. Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos? , perguntou ele. Então olhou para os que estavam assentados ao seu redor e disse: Aqui estão minha mãe e meus irmãos! Quem faz a vontade de Deus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” (Marcos 3.31-35)
“Respondeu Jesus: Digo-lhes a verdade: Ninguém que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, ou campos, por causa de mim e do evangelho, deixará de receber cem vezes mais, já no tempo presente, casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, e com eles perseguição; e, na era futura, a vida eterna.” (Marcos 10.29-30)
Então, como podemos combater em prol do conceito e desenvolvimento da família estendida como uma alternativa de Deus para o acolhimento e modelamento de pessoas que se rendem ao evangelho em nossa cultura contemporânea?
Para responder a esta questão quero que observemos o texto bíblico conhecido como “Tito”, em seu capítulo 2. Este livro é uma carta escrita pelo apóstolo Paulo a um de seus jovens discípulos, que ficou com a responsabilidade de liderar o avanço do evangelho e a estruturação da igreja na Ilha de Creta.
“Você, porém, fale o que está de acordo com a sã doutrina.” (Tito 2.1)
“É isso que você deve ensinar, exortando-os e repreendendo-os com toda a autoridade. Ninguém o despreze.” (Tito 2.15)
Entre a abertura e o encerramento deste texto temos para quem Tito deveria ensinar o que é chamado de “sã doutrina”. E a mesma deveria ser ensinada para:
- Os homens mais velhos
- As mulheres mais velhas
- As mulheres mais jovens
- Os jovens.
- Os escravos
Ou seja, todos as faixas etárias são contempladas, bem como as posições sociais.
No contexto de Tito, os escravos faziam parte de uma família. Na cultura grega eles eram de propriedade dos patronus.
No texto de Efésios 6.9 vamos ter uma orientação da palavra de Deus direcionada aos patronus cristãos em relação a seus escravos, que é omitida aqui em Tito, mas que serve de referência para entendermos que todos estão sendo contemplados pela orientação das Escrituras sobre suas responsabilidades para a formação e manutenção dos valores do Reino de Deus na vida familiar.
“Vocês, senhores, tratem seus escravos da mesma forma. Não os ameacem, uma vez que vocês sabem que o Senhor deles e de vocês está nos céus, e ele não faz diferença entre as pessoas.” (Efésios 6.9)
Na nossa cultura fugimos da responsabilidade que temos como parte de nossa família. E há muitas famílias que não tem nenhuma referência que possa ser seguida pelos seus componentes, porque estamos mais preocupados com nossos direitos individuais do que com nossa responsabilidade familiar.
Assim, a igreja deve ser uma grande família. Temos todos o mesmo sangue! O sangue do Cordeiro Santo de Deus, Jesus Cristo, que morreu por nós e ressuscitou, para que pudéssemos ter uma nova vida. Uma vida com um novo poder, novo relacionamento e novo propósito.
Cada um de nós precisa se ver como responsável por outros que chegam no nosso meio precisando de modelos de pais, mães, casamentos, filhos, para que saibam como viver as suas vidas dentro dos valores do Reino de Deus.
“Ensine os homens mais velhos a.... Semelhantemente, ensine as mulheres mais velhas a... Assim poderão orientar as mulheres mais jovens a.... Da mesma forma encoraje os jovens a.... Ensine os escravos a....”
Ao orientar Tito sobre o que ele deveria ensinar na igreja em Creta, o apóstolo Paulo, enfatiza a vida cotidiana e comum que temos para viver como cidadãos do Reino de Deus, inseridos como peregrinos em uma cultura oposta ao governo amoroso de Deus.
A descrição que encontramos em Tito 1.9-16 demonstra claramente como a cultura em que a igreja de Creta estava inserida era contrária ao Reino de Deus e como a igreja deveria responder a ela.
De modo semelhante em nossos dias vivemos cercados por valores que são opostos a boa e perfeita vontade de Deus para a humanidade e como igreja devemos nos opor a eles através de um estilo de vida que propicie uma alternativa para a sociedade que nos cerca.
Assim, a sã doutrina que a Bíblia nos ensina não é nada etérea, mas concretamente pratica para nosso viver diário e para a vida das pessoas que nos cercam.
- Os homens mais velhos devem ser modelos de moderação, respeito, sensatez, e de uma vida saudável de fé, amor e esperança (Tito 2.2).
- As mulheres mais velhas devem ser modelos de vidas reverentes, bondade, temperança e benignidade. Orientando as jovens mulheres (Tito 2.3-4).
- As mulheres mais novas precisam praticar o amor ao esposo e cuidado para com os filhos, a serem prudentes e puras, a não serem ociosas, a serem bondosas, e submissas a seus maridos (Tito 2.4-5).
- Os jovens precisam ser prudentes (2.6).
- Os escravos precisam ser submissos, agradáveis aos seus senhores, sem responderem e roubá-los (2.9-10).
Estes são exemplos do primeiro século de uma cultura específica, mas que expressam o princípio do que a “sã doutrina” do evangelho deve produzir em nossa vida.
Hoje as pessoas precisam, tanto ou mais do que nos dias de Tito, de referências do que vem a ser uma vida familiar sadia. Pessoas precisam de referenciais e de encontrarem um caminho alternativo para inspira-las na vida familiar.
Adolescentes e jovens precisam encontrar referência de casais com casamentos sadios para se sentirem seguros ao entrarem em um casamento. Crianças precisam encontrar o modelo de masculinidade e feminilidade saudáveis para que possam se desenvolver como homens e mulheres integrais. Jovens casais precisam ver em casais mais maduros a sabedoria de um casamento que fez a escolha pela aliança conjugal no lugar da transitoriedade da paixão.
“Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente, enquanto aguardamos a bendita esperança; a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo. Ele se entregou por nós a fim de nos remir de toda a maldade e purificar para si mesmo um povo particularmente seu, dedicado à pratica de boas obras.” (Tito 2.11-14)
A conclusão deste texto é de fundamental importância para a compreensão da igreja como a família estendida de Deus para nós.
O texto nos lembra que se vivemos o que vivemos como igreja é devido a graça de Deus e não a nossos esforços pessoais, ou porque a igreja tem em si algum elemento mágico.
Muitas pessoas se decepcionam com a igreja porque esquecem-se de que ela é composta por seres humanos como todos os demais, e que a única diferença entre nós é o poder do evangelho que nos conduz a aprender e viver um estilo de vida diferente do contexto que nos cerca.
A igreja, assim como qualquer outra família, tem suas crises, suas limitações, seus desencontros, mas a graça de Deus se manifesta salvadora através do evangelho, nos conduzindo a busca continua de um novo padrão de vida que irá nos referendar.
A igreja é o contexto onde as pessoas devem encontrar uma família estendida que foi remida de toda a maldade e purificada para ser o povo de Jesus Cristo que está neste mundo, mas que vive na prática das boas obras (a vontade boa e perfeita de Deus para a humanidade).
É no contexto desta família estendida que a sociedade pode encontrar esperança no evangelho, no que Deus fez por nós através da morte e ressurreição de Jesus Cristo, pois aprendemos com ele a viver nesta era presente de maneira sensata, justa e piedosa, enquanto esperamos a chegada plena do Reino de Deus.
Esse é o desafio e o privilégio que o Evangelho nos impõe como uma igreja missional! Sermos a referência para as famílias ao nosso redor do que é um casamento baseado na aliança conjugal, do que são pais comprometidos com a formação de seus filhos e filhos engajados com dar honra a seus pais.
Se nossa sociedade contemporânea não sabe o que é isto, então, que ela olhe para a igreja e veja o modelo disto em nós. E para tanto, precisamos da graça de Deus.
No Caminho,
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