quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Uma nova atitude para com o próximo


Insensibilidade!
Esse é um sentimento que cultivamos muitas vezes para procurar manter nossa sanidade diante de tantas situações conflitantes que nos deparamos em nosso dia a dia.
Existem tantas demandas ao nosso redor, que muitas vezes nos sentimos angustiados e acabamos optando por tentar evitar ter consciência do que aflige a tantas pessoas que nos rodeiam.
José Luis Amâncio, colunista da Revista Você S/A, diz o seguinte sobre isso:
O ritmo atribulado da vida moderna nos faz desenvolver novas habilidades para corresponder aos desafios diários, porém também possui alguns fatores negativos e entre eles a insensibilidade social. Podemos chamar de insensibilidade social o ato pelo qual, consciente ou inconscientemente, as pessoas passam a não perceber a existência de outras pessoas no seu cotidiano agindo de maneira as vezes mecânicas e eventualmente de maneira não solidária.
Semanalmente, para não falar diariamente, recebemos uma série de apelos vindos de todos os lados solicitando ajuda e nos sentimos, primeiramente, incapazes de responder a todas essas solicitações, e depois  vamos ficando cada vez mais insensíveis a elas, chegando ao descaso várias vezes para com o próximo.
Mas, como é que podemos lidar com essa situação? Como é que podemos construir atitudes adequadas para lidar com o próximo? Acho que uma das histórias mais conhecidas, das contadas por Jesus, é a famosa história do “Bom  Samaritano”, que está registrada em Lucas 10.25-37 e com ela aprendemos algumas posturas que devemos ter para assumir uma nova atitude para com o próximo.
A história. Antes de levantarmos algumas posturas que precisamos assumir para que nossa atitude para com o próximo mude, vamos observar que a história é contada por Jesus a fim de responder quem é o nosso próximo.
Conforme a própria conclusão do “Mestre da Lei” que conversa com Jesus, o nosso próximo é qualquer pessoa de quem nós resolvemos nos aproximar.
A pergunta feita pelo mestre da Lei foi: “E quem é o meu próximo?”  E a resposta que Jesus dá diz respeito a de quem é que nos tornamos próximo: “Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?”
Assim, compreendendo que o próximo tem a ver com aquelas pessoas de quem nós resolvemos nos aproximar, vejamos que posturas podemos ter para que novas atitudes surjam de nós para com o outro.

I.               OLHAR PARA O PRÓXIMO COM PIEDADE.

A primeira postura que precisamos ter para que novas atitudes fluam de nós em favor do próximo tem a ver com como é que o vemos.
Na Parábola contada por Jesus, há três homens que passam por um outro que havia sido assaltado e espancado. Os dois primeiros o viram, mas não tiveram piedade dele. Não se compadeceram, passaram pelo outro lado e seguiram seus caminhos com insensibilidade.
“Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado. E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado.” (Lucas 10.31-32)
Quantas vezes agimos de semelhante modo? Quantas vezes vemos situações e entendemos que não devemos nos envolver porque estamos ocupados, temos nossos próprios problemas, temos um compromisso que nos aguarda. E, então, damos de ombro, passamos pelo outro lado.
Na verdade nossa sociedade nos incentiva a esta postura! O problema não é nosso, não é meu, e é melhor que outro se ocupe com ele. Ninguém vai fazer nada a respeito? Onde estão as autoridades? Onde estão os pais destas crianças? Onde está qualquer um que não seja eu mesmo?
Por outro lado, quando o samaritano entra na história sua postura é diferente, pois ele também vê o homem em necessidade, mas o vê de uma maneira diferente dos outros dois que passaram anteriormente. Ele o vê com piedade.
“Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele.” (Lucas 10.33)
Para que tenhamos uma nova postura para com o próximo precisamos ser tomados pela mesma atitude de piedade, de misericórdia, que está presente no coração de Jesus Cristo.
Nós só nos tornamos próximos, só chegamos perto, só damos da nossa atenção, só tocamos no outro, se nosso coração for tomado por misericórdia.
Esse é um sentimento que sempre que aparece em relação a Jesus mostra-nos que o leva a uma ação. Não existe misericórdia, ou piedade, que seja passiva. Ela sempre nos move na direção do outro.
Uma outra palavra usada pela Bíblia para isso é compaixão! Todas as vezes que Jesus se compadece de alguém ele se dirige em favor desta pessoa. Vejamos como exemplo este encontro de Jesus com um leproso.
“Um leproso aproximou-se dele e suplicou-lhe de joelhos: Se quiseres, podes purificar-me! Cheio de compaixão, Jesus estendeu a mão, tocou nele e disse: Quero. Seja purificado! Imediatamente a lepra o deixou, e ele foi purificado.” (Marcos 1.40-42)
Portanto, se formos tomados pela compaixão de Deus e olharmos com piedade para o próximo nossa atitude para com ele irá ser diferente.

II.             INVESTIR NO PRÓXIMO PESSOALMENTE.

Essa segunda postura nos mostra que o nosso envolvimento com o outro deve contemplar não apenas a ordem estrutural, mas também pessoal.
Uma das razões pelas quais queremos evitar o nosso próximo é que sabemos que se pararmos para nos envolver isso terá um custo. Sejamos honestos, muitas vezes estamos tão envolvidos com nosso próprio mundo, nossa vida se fecha numa circunferência em torno de nós mesmos, do nosso conforto, nossos propósitos, nossos sonhos, nossas distrações, que nos acomodamos a tudo isso.
Seja lá o que for que os dois primeiros homens, que por sinal eram religiosos, tivessem para fazer naquele momento, foi mais importante do que o investimento que teriam que fazer na vida daquela pessoa que estava caído no caminho. Havia a possibilidade do homem estar morto e conforme a lei cerimonial, se um sacerdote ou um levita (que era uma espécie de líder e oficial do Templo em Jerusalém) tocasse em um cadáver, estariam desqualificado para seus ofícios por algum tempo. Esse pode ter sido o motivo de se evitar o socorro.
Já o samaritano abre mão do percurso de sua viagem, ou mesmo altera sua rota, muda a data da passagem, para que possa dar do seu tempo, atenção e recursos em prol daquele homem que precisava de sua ajuda.
“Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e lhe disse: “Cuide dele. Quando eu voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver.” (Lucas 10.34-35)
Muitas vezes nós esperamos que alguém faça alguma coisa em favor dos necessitados, mas raramente paramos para considerar que este alguém deveria ser nós mesmos.
O problema é que quando vivemos vidas centradas em nós mesmos, com o passar do tempo, o brilho da vida se esvai, nos sentimos cercados pela rotina, e tomados pela monotonia, mas mesmo assim não queremos lidar com as implicações do servir.
Mas, nossa vida encontra real sentido e significado quando tiramos os olhos de nós mesmos e nos doamos em favor de outros, seguindo o exemplo que nos foi dado pelo próprio Deus que se manifestou entre nós na pessoa de Jesus Cristo.
“Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” (Marcos 10.45)
Na verdade as Escrituras nos mostram que amar implica em servir e não há como servir sem investimento próprio e auto doação. Essa é a essência do que Jesus nos ensina quando diz que devemos agir como ele e “lavar os pés uns dos outros”.
“Vocês me chamam Mestre e Senhor, e com razão, pois eu o sou. Pois bem, se eu, sendo o Senhor e Mestre de vocês, lavei-lhes os pés, vocês também devem lavar os pés uns dos outros.” (João 13.13-14)

III.           TOMAR A INICIATIVA EM FAVOR DO PRÓXIMO.

Como disse no início é interessante o fato de que Jesus inverte a questão levantada pelo mestre da Lei.
Enquanto este quer saber “quem é o seu próximo”, Jesus, com sua Parábola, demonstra que nós é que temos que tomar a iniciativa de sermos próximos.
“Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: E quem é o meu próximo?” (Lucas 10.29)
“Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” (Lucas 10.36).
Isso é de fundamental importância. Para mim é na verdade a essência do que Jesus está querendo ensinar com esta parábola.  Nós não apenas somos próximos, quando nos aproximamos, mas também somos próximos quando alguém se aproxima de nós. Ou seja, ser próximo tem a ver com iniciativa.
Não vamos perder o “fio da meada” aqui. Na cultura de Jesus, um judeu e um samaritano não se davam. Mas Jesus torna o samaritano o “herói” desta parábola. Se ele não socorresse, se ele não servisse aquele homem moribundo, o mesmo teria morrido.
Estamos prontos para tomar a iniciativa tanto para servir, quanto para reconhecer que precisamos aceitar sermos servidos por “próximos” que não se enquadram dentro de nossa agenda de conveniências?
Veja bem, essa é uma questão de iniciativa. Precisamos estar abertos para nos mover em favor do outro e abertos para recebermos o movimento do outro em nosso favor. Jesus constrói a história de uma forma que não há escapatória para aquele mestre da Lei. Ou ele é o samaritano, ou é o moribundo que precisa aceitar ser socorrido pelo samaritano.
Outro detalhe importante que precisamos lembrar aqui é que tem muita gente que, embora não esteja caído a beira do caminho e sim passando por nós, se encontra no mesmo estado de desespero e necessidade deste personagem da parábola de Jesus.
Pessoas que muitas vezes estão bem vestidas, são bonitas, tem um bom carro, e várias outras coisas, estão nas baladas, estão rindo por fora, mas por dentro estão como “semi-mortas a beira do caminho”.

CONCLUSÃO
Em minha opinião é muito nítido que aquele que se fez próximo do modo mais contundente em nosso favor foi o próprio Jesus Cristo.
Ele olhou para mim e para você com piedade, investiu pessoalmente em cada um de nós, pagando nosso divida de rebelião contra Deus, curando nossas feridas e fez isso não porque fosse obrigado, mas movido pela iniciativa de seu amor e graça.
“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3.16)
Para que eu e você possamos ter uma nova atitude para com o próximo que seja durável é preciso, que antes de mais nada, aceitemos que Jesus seja aquele que se aproxime de nós para nos transformar e nos dar de sua vida.
Assim poderemos viver nossas vidas nele e amar como ele ama, fazendo o que ele faz pelo outro de quem nos aproximamos.
“Nisto conhecemos o que é o amor: Jesus Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar a nossa vida por nossos irmãos.” (1João 3.16)

APLICANDO
1.     Ore ao longo desta semana, a cada manhã, pedindo a Deus que dê a você um coração sensível aqueles que estão ao seu redor ao longo do dia.
2.     Pense em como você pode tomar a iniciativa para investir na vida de pessoas que se aproximam de você em cada dia desta próxima semana (por exemplo: como você pode agir em um supermercado, no posto de gasolina, no aeroporto)
3.     Esteja aberto para ser receptivo e acolhedor se Deus aproximar de você alguma pessoa para servi-lo que não se enquadre no seu conceito de gente politicamente correta.

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