terça-feira, 1 de março de 2011

Uma nova atitude para com o Reino de Deus


Como filhos e filhas amados de Deus que estão inseridos em uma sociedade individualista, pragmática e cheia de demandas, nós precisamos de novas atitudes que expressem a realidade de uma vida diferenciada que Deus tem nos oferecido e que ele quer estender a todas as pessoas que desejarem.
Essas atitudes precisam ser novas na esfera pessoal (o cuidado de nossa vida e comunhão com Deus), na esfera de nossos relacionamentos íntimos (família, amigos íntimos e irmãos em Cristo), na esfera de nossos relacionamentos com o próximo (todo aquele de quem nos aproximamos ou que se aproxima de nós), mas também precisamos de uma nova atitude em uma esfera mais ampla, que englobe o projeto de vida que Deus tem para nós quando respondemos ao seu amor e graça, que nos são oferecidos em Jesus Cristo.
Precisamos compreender que o que a Bíblia chama de salvação, que anunciamos a partir do Evangelho, é um chamado para que saíamos de um estilo de vida independente e autônomo, para um estilo de vida de comunhão e parceria com Deus e com a missão que ele tem a executar através do seu povo, a igreja.
Aqui temos um grande desafio, pois somos chamados por Deus para vivermos como parte de seu povo, mas caminharmos no meio de uma cultura que é antagônica aos valores que Deus deseja para cada um de nós.
Após o apóstolo Paulo ter exposto o Evangelho, registrado nos 11 primeiros capítulos de sua carta aos Romanos, ele abre o capítulo 12.1-2 com os seguintes desafios:
“Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12.1-2)
Aqui somos desafiados a entender que o Evangelho nos convida a assumir uma nova atitude para com o projeto que Deus tem para nossa vida. Ele nos desafia a entender que se acolhemos o Evangelho, então, teremos uma nova atitude para com o que Deus está realizando em nós e através de nós com vistas a sua obra de redenção.
Um dos grandes desafios que temos é entender como é que podemos ter atitudes que expressem nossa nova identidade como o povo redimido de Deus em missão no mundo.
E é sobre isto que quero tratar com vocês!

I.               UMA CLARA COMPREENSÃO DO QUE A BÍBLIA NOS REVELA SOBRE O NOSSO MUNDO.
Paradigma é a palavra usada para se referir ao conjunto de valores que determina a maneira que as pessoas assimilam e expressão os valores vigentes em uma determinada época e lugar.
Se pensarmos em termos sociológicos, antropológicos ou filosóficos, nós seremos capazes de distinguir uma série de paradigmas diferentes ao longo de nossa história, que tem influenciado os mais diversos grupos de pessoas, inclusive o próprio povo de Deus, a igreja.
No entanto, em termos bíblico-teológico, podemos resumir todos esses paradigmas em apenas dois que a Bíblia chama de Reino de Deus e presente século, “mundo” ou reino das trevas.
“Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados.” (Colossenses 1.13-14)
Se queremos ter uma nova atitude diante do Reino de Deus e da missão que ele impõe para nós precisamos ter uma cosmovisão da vida e da história a partir das Escrituras e vivermos conscientes dela. A Bíblia divide toda a nossa história em três grandes partes.
1.    Criação.
Nos dois primeiros capítulos do primeiro livro da Bíblia, Gênesis, nós somos informados de que o nosso mundo foi criado por Deus do nada. Três lições importantes retiramos desta informação.
a.     Há um Criador e há uma criação.
“No princípio Deus criou o céus e a terra. Era a terra sem forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.” (Gênesis 1.1-2)
O Criador é essencialmente distinto da sua criação. A criação precisa do Criador; o Criador não necessita da criação.
b.     Toda a criação de Deus é originalmente boa.
“E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom. Passaram-se a tarde e a manhã; esse foi o sexto dia.” (Gênesis 1.31)
Isso significa que tudo o que foi criado por Deus, foi aprovado por ele, e o deixou plenamente satisfeito.
c.      Na criação o ser humano foi a obra prima de Deus.
“Então disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os grandes animais de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão. Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gênesis 1.26-27)
Isso implica em que o ser humano é responsável diante de Deus pela organização e desenvolvimento de nosso mundo, porque foi criado para fazer parte de uma vida singular de intimidade com Deus e para cuidar de toda a criação.
“Deus os abençoou, e lhes disse: Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra.” (Gênesis 1.28)
2.    A Queda.
Em Gênesis 3 somos informados de que uma decisão tomada pelos representantes da humanidade, Adão e Eva, levou toda Criação, que era boa e perfeita, a um estado de caos.
Fazendo a escolha de comerem da “árvore do conhecimento do bem e do mal”, que era o fator limitador que demonstrava se o ser humano realmente desejava manter sua comunhão e dependência de Deus, o ser humano abriu as portas das trevas para a boa e perfeita criação de Deus.
a.     Essa decisão afetou a nossa relação com Deus, pois passamos a ter medo dele e a vê-lo como um intruso em nossa vida, fugindo e nos escondendo dele, ao invés de buscar retomar nossa confiança e dependência nele, ou, vendo-o como alguém que existe para satisfazer os nossos desejos pessoais e egoístas.
b.     Essa decisão afetou a nossa relação com o outro, pois passamos a evitar o nosso próximo, ainda que fosse muito chegado a nós, evitando a intimidade e transparência autentica.
c.      Essa decisão afetou a nossa relação com a criação mais ampla, marcando tudo o que passamos a fazer com o mal e com a degradação.
3.    Redenção.
Podemos entender que a partir desta situação, que chamamos de Queda, todo o restante das Escrituras nos descrevem a missão de Deus em resgatar sua criação, começando pelo ser humano, e dirigindo-a novamente para seu propósito original.
Chamamos isso de Redenção, e ela acontece efetivamente em nosso mundo por intermédio da entrada de Deus em nosso mundo na pessoa de um ser humano, Jesus Cristo, que por sua vida, morte e ressurreição quebra o poder do reino das trevas e nos trás de volta para a esfera do seu domínio de amor e graça, ou seja, o Reino de Deus, que irá se manifestar entre nós um dia de maneira plena.
Esses são os três grades temas que a Bíblia divide toda a nossa história e neles constrói os fundamentos do paradigma do Reino de Deus que está presente em nossa vida.

II.             UMA EFETIVA PARTICIPAÇÃO NO POVO QUE DEUS TEM REUNIDO NESTE MUNDO.

Como disse a Redenção que Deus está efetivando em nosso mundo para resgatá-lo do poder do reino das trevas começa pelo resgate do ser humano.
Lemos no livro de Efésios:
“Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais costumavam viver, quando seguiam a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência. Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões – pela graça vocês são salvos.” (Efésios 2.1-2, 4-5)
A Bíblia nos ensina que aqueles que são resgatados por Deus através de Jesus Cristo, são inseridos já no seu Reino. Esses que são trazidos de volta para o seu Reino passam a fazer parte de um povo que agora vive comprometido com a vida deste Reino.
“Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados.” (Colossenses 1.13-14)
Esse povo é chamado de igreja e as pessoas que o compõe são aqueles que já estão vivendo novamente influenciados pelos paradigmas do Reino de Deus. Por isso mesmo, embora continuemos neste mundo, vivendo bem no meio desta presente era, nós já não fazemos mais parte dela, somos peregrinos e estrangeiros.
“Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos de Deus, peregrinos dispersos no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na província da Ásia e na Bitínia, escolhidos de acordo com o pré-conhecimento de Deus Pai, pela obra santificadora do Espírito, para a obediência a Jesus Cristo e a aspersão do seu sangue: Graça e paz lhes sejam multiplicados.” (1Pedro 1.1-2)
Assim, para que eu e você possamos ter uma nova atitude para com o Reino de Deus é preciso que tenhamos um compromisso e uma dedicação renovados para com nossa presença e participação no povo de Deus, a igreja.
O escritor da carta aos Hebreus insiste com esse ponto de que precisamos tomar cuidado para não deixarmos de caminhar efetivamente como povo de Deus e entre o povo de Deus.
“Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas procuremos encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia.” (Hebreus 10.25)
Quando tocamos neste assunto passamos pela grande questão relacionada ao que é igreja, e a essência e forma do que fazemos. Esse é um assunto do qual tenho me ocupado a muito tempo e com o qual gasto um bom tempo pensando.
Leio muitos livros, converso com muitas pessoas,  e volto muitas vezes as Escrituras em oração, para discernir o que de fato está ou deveria estar relacionado a ser povo de Deus no mundo de hoje.
Muitos de nós, que afirmamos ser cristãos, ou seja, seguidores de Jesus Cristo, estamos com nossa vivência como igreja influenciada pelos paradigmas do consumo de nosso presente século. Isso faz com que acabemos tendo uma postura de consumidores em nossa vivência de igreja, aonde:
“A igreja é vista como fornecedora de produtos e serviços religiosos. As pessoas vêm para a igreja para receber alimento, para que suas necessidades sejam supridas por meio de programações de qualidade e para que profissionais ensinem a seus filhos sobre Deus.”
As conseqüências disso é que por um lado, temos contemplado um numero cada vez mais crescente de pessoas que tem a tendência de querer rejeitar as formas contemporâneas que temos como expressão da igreja. O anseio é por algo que seja mais amplo, mais orgânico.
Por outro lado, temos aqueles que continuam se esforçando para tentar fazer a igreja funcionar dentro dos parâmetros que tem sido conhecido por nós já a tanto tempo.
Minhas observações pessoais sobre isso é que a Bíblia não abre mão de que ser seguidor de Jesus é ser alguém que é inserido na vivência de um novo povo que está vivendo em um novo Reino e comprometidos com uma nova razão de viver.
Isso faz com que entendamos a igreja como um grupo de pessoas enviadas numa missão, que se reúnem em comunhão para adorar, para incentivar uns aos outros e para extrair do ensino da Palavra o suplemento alimentar para o que ingerem durante a semana.
Portanto, penso que devemos tomar cuidado para que no anseio de querer algo mais significativo, que transcenda as estruturas que já conhecemos como igreja, ao invés de somar, subtraiamos.
Não acho que o caminho é o que tem sido tomado por alguns, dizendo-se em busca de uma relação mais profunda e significativa, abandonam a vivencia que experimentamos como parte do povo de Deus. Acho que o caminho é, somarmos a essa vivência outras experiências que a venham aprofundar.
Afinal de contas, em Atos dos Apóstolos, quando lemos sobre a igreja embrionária, somos informados de que eles se reuniam todos os dias no pátio do Templo e de casa em casa.
“Todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração.” (Atos 2.46)

III.           UMA INTEGRAL DEDICAÇÃO AO QUE DEUS ESTÁ FAZENDO NO MUNDO.

Antes de ser assunto a sua posição de glória que sempre teve com o Pai, Jesus Cristo delegou uma tarefa a seu povo, a igreja.
“Então, Jesus aproximou-se deles e disse: Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos.” (Mateus 28.18-20)
Quero chamar nossa atenção em especial para a seguinte colocação: “ensinando-os a obedecer a tudo o que lhes ordenei.”
A tarefa que Jesus Cristo delegou a igreja, ou seja a homens e mulheres que foram alcançados por seu amor expresso por nós por sua morte e ressurreição, é que como seus súditos, como seus seguidores, estejamos vivendo no nosso mundo e fazendo novos seguidores, que se juntarão a nós para vivermos e nos envolvermos integralmente aos novos valores deste Reino em que fomos inseridos.
Ensinar a obedecer a tudo o que Jesus ordenou significa assumir uma nova e integral postura para com a presença do Reino de Deus que está entre nós e para com a extensão da vida deste Reino em todas as esferas de nossa vida.
No centro desta tarefa está o compartilhar a boa notícia de que Deus restabeleceu a sua paz com o ser humano, mediante a vida de seu Filho Jesus Cristo, e que em Jesus todas as coisas estão sendo redimidas e restauradas.
“Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia. Pois foi do agrado de Deus que nele habitasse toa a plenitude, e por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão nos céus, estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz.” (Colossenses 1.15-20)
É através da igreja que Jesus Cristo continua operando e exercendo seu domínio e governo no mundo hoje, até que ele redima todas as coisas. Assim, como o Corpo de Cristo, a igreja, pela presença poderosa do Espírito Santo nela, vive uma nova realidade de vida, submete-se a um novo Rei, e se compromete com um novo projeto que será culminado com a segunda vinda de Jesus Cristo, e a chegada plena de seu Reino.
Quando compreendemos isso, então, assumimos uma nova atitude diante do mundo em que estamos vivendo. Entendemos que somos chamados para um envolvimento integral como súditos do Reino de Deus e como representantes oficiais deste Reino, nos dedicamos a tudo aquilo que o Senhor do Reino está realizando, tanto por meio de sua graça salvadora, quanto pela sua graça geral, para conduzir este mundo a Redenção.
Isso afeta toda a nossa vida: da família ao trabalho; da celebração comunitária ao lazer; da nossas práticas espirituais ao nosso dinheiro; das nossas relações com conhecidos e desconhecidos.

CONCLUSÃO

Como parte do povo de Deus em missão no mundo nós temos a tarefa de fomentar a cultura do Reino de Deus em meio ao presente século da maldade em que estamos inseridos.
Não podemos fazer isso como indivíduos, só podemos fazer isso como pessoas que fazem parte de um novo povo, que se constituem em uma nova família, que está fazendo as obras de seu Pai, enquanto há tempo.
Jesus Cristo, mediante seu Espírito que está presente em nós, é quem nos lidera nessa tarefa que inclui plantar árvores e curar pessoas; tirar o lixo de casa e tirar a amargura de nossas relações; de cantar canções em um encontro com a igreja e apreciar e gerar uma arte que seja criativa e construtiva; de comer com amigos e fazer sexo com o cônjuge.
Em todas as coisas devemos viver para a glória de Deus.
“Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus.” (1Coríntios 10.31)

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