sábado, 14 de abril de 2012

E a Justiça de Deus?

Olá pessoal!

Quero tratar de um assunto que sempre vem a tona em aulas dadas por mim no Seminário e surge em muitos aconselhamentos e outros contextos, todas as vezes que trato sobre a graça de Deus. A pergunta que sempre é levantada é, mas Deus não é justo? E como fica a justiça de Deus?

Antes de entrar na questão da justiça propriamente dita quero destacar duas coisas:

1. Todas as vezes que realmente estivermos ensinando baseados na graça, sempre ficará um certo sentimento ou impressão, equivocada, de que se está dizendo que não importa o que façamos, não importa o nosso pecado, não importa se continuaremos pecando ou não. Isso não é novo, veja por exemplo essa questão levantada pelas Escrituras bíblicas em 1Coríntios 6.1-2: "Que diremos então? Continuaremos pecando, para que a graça aumente? De maneira nenhuma! Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele?". Então, o próprio apóstolo Paulo, quando ensinava sobre a graça tinha que lidar com esse equivoco aparente que é a idéia de que a graça nos libera para pecar. Ela não libera! A questão é que quando experimentamos verdadeiramente a graça de Deus, passaremos a desejar viver para a glória dele e isso nos levará a lutar contra o pecado.

2. A segunda questão é que muito do que as pessoas levantam, inclusive e talvez até mesmo principalmente os cristão atuais, como sendo justiça não têm nada a ver com a justiça de Deus. Há é claro consequências advindas naturalmente para aquilo que fazemos e que quebra as normas sociais estabelecidas, e quando isso acontece, é lógico que uma resposta legal terá que ser dada ao fato, mas isso não tem a ver com justiça de Deus, tem a ver com justiça humana, penal e legal, providenciada pela graça comum, pois somos seres sociais e somos regidos por leis sociais.

Dito isso, vamos tratar especificamente sobre a questão da justiça de Deus.

Geralmente a questão é levantada quando ouvindo sobre a graça, sobre o evangelho e sobre as exigências que Deus nos faz quanto a perdoarmos aqueles que nos ofende, e achamos "injusto" ter que perdoar alguém que no nosso entender não "merece" perdão, porque continua falhando conosco. Ai é levantado a questão, de como fica a justiça.

Bem, a justiça de Deus é Jesus Cristo! Sim, a justiça de Deus é promovida no evangelho! Veja o que o apóstolo Paulo diz em Romanos 1.17: "Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: O justo viverá pela fé".

Conforme esse texto e muitos outros precisamos entender que tudo em relação a Deus passa pelo evangelho, incluindo sua justiça. O que precisamos admitir é que "não há nenhum justo, nem um sequer"(Romanos 3.10); se formos lidar com as pessoas baseados em uma justiça fora do evangelho, então, todos nós estamos condenados.

Indo um pouco mais a frente em Romanos 3.21-24 lemos: "Mas agora se manifestou uma justiça que provém de Deus, independente da Lei, da qual testemunham a Lei e os Profetas, justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que crêem. Não há distinção, pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus." Mais uma vez a Bíblia deixa claro que se evocamos a questão da justiça de Deus precisamos compreender que a mesma é exercida no evangelho.

Nenhum ser humano é justo. Nenhum ser humano pode se justificar diante de Deus a partir de seus atos. Podemos sim, olhar para outro ser humano e acusá-lo ou cobrar posturas deles que entendemos estar equivocadas, mas não podemos fazer isso alegando justiça, pois se o fizermos precisamos olhar para nossa própria vida e apresentá-la justa, mas não somos justos, somos justificados pela fé no que Deus fez por nós em Jesus Cristo.

"Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo" (Romanos 5.1)

Logo, a graça de Deus não exime a justiça de Deus, porque a justiça de Deus foi executada em Jesus Cristo. É em Jesus Cristo que Deus exerce sua justiça e é a partir dele que a mesma será distribuída um dia sobre toda a humanidade.

Aqueles que se renderam a graça amorosa de Deus em Jesus Cristo, ainda que injustos, serão recebidos porque sua injustiça foi quitada pela justiça de Deus em Jesus Cristo, é por isso que o "justo viverá pela fé", fé no evangelho, fé nesta convicção de que em Jesus Cristo fomos justificados diante de Deus.
Aqueles que não se renderam a graça amorosa de Deus receberão justiça sobre sua injustiça porque sua injustiça não foi lançada sobre Jesus Cristo, então, continuam a mercê do juízo de Deus.

É baseado nisto que as Escrituras insistem conosco que não podemos julgar ninguém e não podemos exigir justiça de Deus contra ninguém fora de Jesus Cristo. A justiça de Deus é o evangelho! É baseado nisto que não temos argumentos para dizer que não podemos perdoar alguém que erra conosco, porque perdoamos, mas a pessoa continua errando.

Jesus, em Mateus 18.23-35, conta uma parábola para responder a uma questão que o apóstolo Pedro levanta sobre quantas vezes devemos perdoar um irmão que peca contra nós. Com essa parábola Jesus retira a questão da quantidade de vezes, e a coloca na intensidade do perdão.

Pedro pergunta se deve perdoar até sete vezes, Jesus diz que não até sete, mas 70 vezes 7 e em seguida conta a parábola para mostrar que ele não estava falando de quantidade de vezes, mas da intensidade e profundidade do perdão.

Isso fica claro quando observamos que na parábola o perdão é estendido pelo senhor a seu servo apenas uma vez, mas a intensidade do perdão é plena, pois a divida era impagável. Ai o servo não perdoa a divida de um de seus conservos e se vê em apuros com seu senhor, porque a intensidade do que fora lhe oferecido como perdão era inalcançável. Ora, o que Jesus está ensinando com essa parábola é que diante do fato de que fomos perdoados de uma divida impagável por Deus, não temos como não perdoar as pessoas seja lá quantas vezes forem.

Ai geralmente se levanta duas questões: a primeira é que, "e se a pessoa não se arrependeu". Bem, para essa questão a resposta é que isso só pode ser avaliado por nós se a pessoa disser que não se arrependeu, mas se ela disser que se arrependeu não podemos julgá-la, pois só Deus conhece o coração da pessoa.

A segunda questão levantada "é que a pessoa diz que se arrependeu, mas daqui a pouco torna a fazer a mesma coisa". A resposta para isso é novamente o evangelho, precisamos olhar para nós mesmos diante de Deus e ver quantas vezes pedimos perdão para Deus, e tornamos a pecar novamente. Mas a divida foi perdoada. Então, se pedimos perdão para Deus e ele nos perdoa, aquela divida não existe mais, se tornamos a pecar e vamos pedir perdão para ele é como se fosse a primeira vez.

E é exatamente assim que deve ser entre nós e nossos irmãos. Quando perdoamos alguém a divida não existe mais, e quando a pessoa erra, não foi novamente, pois a primeira divida já não existe, é como se fosse a primeira vez. Isso é evangelho!

E talvez digamos, "mas espere um momento eu não sou Deus!" É verdade, mas se nos rendemos ao evangelho a vida de Deus está sendo vivida em nós e, portanto, é isso que deve acontecer: "Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo." (Efésios 4.32)

Então, vamos voltar novamente a questão de que isso significa que não devemos nos importar com a pessoa continuar pecando contra nós? Não! Isso significa que a resposta que temos para a pessoa, se ela se afirmar cristã, é o evangelho. Que a mesma precisa se render ao evangelho e viver pela fé de que o Filho de Deus se entregou por ela e que agora ela não quer mais viver escrava do pecado, mas quer agradar ao Senhor, e, portanto, ela precisa mudar de postura quanto a continuar pecando. Mas isso não nos dá o direito de não querer perdoar, ou de achar que precisa haver justiça além do evangelho.

É aqui que entra a disciplina! Se um cristão continua a pecar descaradamente, sem se arrepender, ele precisa ser corrigido, em amor, para ser conduzido ao arrependimento e ser perdoado. Novamente, isso não nos dá o direito de achar que podemos exigir justiça além do evangelho.

Se a questão for com um não cristão a justiça de Deus continua sendo exercida no evangelho, e devemos perdoar, sendo que agindo assim, deixamos novamente com Deus a autoridade e o direito de exercer sua justiça, que pode se manifestar como sua vingança, caso o evangelho seja rejeitado. Veja o que Romanos 12.19-21 diz:

"Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: Minha é a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor. Ao contrário: Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele. Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem."

Concluindo, evocar a graça não é eximir a justiça de Deus, mas é exalta-la, "Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: O justo viverá pela fé."

Eu espero viver pela fé, pois fui justificado em Jesus Cristo, e espero que esse seja o desejo de cada um que se afirma cristão e seguidor de Jesus Cristo. Que nosso desejo seja pelo EVANGELHO!

No Caminho,

Ricardo Costa

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