segunda-feira, 18 de março de 2013

Suicídio: Uma abordagem pelo evangelho


Conforme dados da OMS, um milhão de pessoas se suicidam no mundo anualmente. Conforme o relatório da OMS há uma pessoa se suicidando a cada 40 segundos no mundo (www.g1.globo.com). 

Informa-se ainda que o suicídio é a décima causa no mundo de mortes na casa de 1 milhão de pessoas, mas quando se restringe as estatísticas as faixa etária dos 15 aos 44 anos, ela cai para o quarto lugar.

Ainda estima-se que há entre 10 a 20 milhões de tentativas de suicídios que são frustradas a cada ano. Conforme o filósofo e sociólogo Durkhein (1982): suicídio refere-se a todas as causas de morte causadas por uma ação da própria vítima, com a ciência do resultado”.

Conforme os estudiosos do assunto as causas mais comuns que geram o suicídio são a esquizofrenia, abuso de drogas, depressão, transtorno bipolar e alcoolismo incluso em um quadro de transtorno mental. 

Em termos do nosso país, o Brasil, entre as 127.470 mortes por causas externas, 8.017, ou seja 6,3%, tiveram como causa o suicídio, conforme pesquisa de 2004.

Entre os anos de 1980 e 2000 houve um acréscimo de 21% na taxa de suicídio, sendo que o mesmo acontece mais entre jovens de 15 a 24 anos (Mello-Santos, 2006). 

Recentemente a USP (Universidade de São Paulo) fez uma pesquisa, que vai virar livro, sobre o suicídio em São Paulo. Entre vários outros dados, detectou-se que a maioria das ocorrências se dão na parte nobre da cidade, ou seja os mais abastados se matam mais.

(os dados acima foram retirados do site www.duniverso.com.br, em 12/03/2013).

Penso que estes dados já são suficientes para nos convencer que estamos lidando com uma situação extremamente séria e que acontece diariamente ao nosso redor sem que nos demos conta dela.

Pensando do lado da religião teremos posturas que são favoráveis ao suicídio como o   Sati do Hinduísmo e posturas opostas, e que mesmo vêem o suicídio como um “pecado” imperdoável, e por isso mesmo desconsidera todo e qualquer contexto existencial para pensar o mesmo, como a Igreja Católica Romana e várias Igrejas Evangélicas.

Como o Evangelho lida e redime esta realidade tão assustadora e que vem crescendo cada vez mais em nossa sociedade? 

O SUICÍDIO É APRESENTADO NAS ESCRITURAS COMO UMA DAS CONTINGÊNCIAS DA VIDA HUMANA.

Quando nós lemos a Bíblia vamos perceber que logo após a separação que foi gerada pela rebelião humana entre o ser humano e Deus, as consequências da morte e destruição começaram a se manifestar em nosso mundo.

A Bíblia vai narrando uma série de posturas que o ser humano vai tomando e que o distancia cada vez mais do propósito original de Deus, bem como as consequências que estas posturas trazem consigo.

Adultério, poligamia, violência, assassinato, incesto, desonestidade, e outras coisas vão sendo apresentadas como realidades que começam a penetrar no mundo bom e perfeito criado por Deus desestruturando-o.

É dentro desta dimensão que o suicídio é apresentado na Bíblia. Não temos um mandamento bíblico que diz que não devemos nos suicidar, mas temos um mandamento que diz que a vida não deve ser tirada, portanto, o suicídio é visto como algo que é contrário ao projeto original de Deus que é favorável a vida.

Por outro lado, não existe na Bíblia nenhuma referência que tome o suicídio como uma situação mais diferenciada do que qualquer outra forma de destruição da vida.

Na verdade nós temos a menção de 7 pessoas que se suicidam na Bíblia.

  1. Abimeleque: “Imediatamente ele chamou seu escudeiro e lhe ordenou: Tire a espada e mate-me, para que não digam que uma mulher me matou. Então o jovem o atravessou, e ele morreu.” (Juízes 9.54)
  2. Sansão: “disse: Que eu morra com os filisteus! Em seguida ele as empurrou com toda a força, e o templo desabou sobre os líderes e sobre todo o povo que ali estava. Assim, na sua morte, Sansão matou mais homens do que em toda a sua vida.” (Juízes 16.30)
  3. Saul: “Então Saul ordenou ao seu escudeiro: Tire sua espada e mate-me com ela, senão sofrerei a vergonha de cair nas mãos desses incircuncisos. Mas seu escudeiro estava apavorado e não quis fazê-lo. Saul, então, pegou sua própria espada e jogou-se sobre ela.” (1Samuel 31.4)
  4. O Escudeiro de Saul: “Quando o escudeiro viu que Saul estava morto, jogou-se também sobre sua espada e morreu com ele.” (1Samuel 31.5)
  5. Aitofel: “Vendo Aitofel que o seu conselho não havia sido aceito, selou seu jumento e foi para casa, para a sua cidade natal; pôs seus negócios em ordem e depois se enforcou. Ele foi sepultado no túmulo de seu pai.” (2Samuel 17.23)
  6. Zinri: “Quando Zinri viu que a cidade tinha sido tomada, entrou na cidadela do palácio real e incendiou o palácio em torno de si, e merreu.” (1Reis 16.18)
  7. Judas: “Então Judas jogou o dinheiro dentro do templo e, saindo, foi e enforcou-se.” (Mateus 27.5)

O que estes textos deixam claros para nós é que cada um destes suicídios tinham um contexto específico que desembocou neles.

Não estou dizendo com isso que o suicídio não é sério ou que não seja um problema, já vimos que é. A própria sociedade humana o vê como um problema, mas o que estou tentando mostrar é que o mesmo é uma das realidades que lidamos porque estamos seguindo nossa vida em um mundo que é afligido pelo caos da desconexão com Deus.


O SUICÍDIO NÃO É VISTO NA BÍBLIA COMO UM PECADO IMPERDOÁVEL.

No contexto da ética e moral religiosa que ao longo dos anos vêm sendo exposta pela vertente cristã no ocidente, seja a Romana ou a Evangélica, existe uma idéia que é tomada por certa, de que se uma pessoa se suicidou, então, ela perdeu a possibilidade de salvação que nos é oferecida por Deus.

Esta linha de raciocínio é fruto de duas tendências. 

Primeira, de uma mentalidade que é sustentada pela falsa narrativa de que a vida é um conjunto de causas e efeitos. De que se causamos algum mal ao longo de nossa vida, então, teremos que lidar com as consequências dele.

Como o suicídio é um mal que a pessoa causa a si mesmo, e que coloca fim a sua vida, então, a consequência disto, infere-se é o que a pessoa irá lidar depois da morte, que para aqueles que defendem este paradigma é o inferno, pois ele não pode se arrepender.

Essa conclusão final nos leva a segunda tendência que é a idéia de que a nossa salvação é resultante do nosso esforço em fazermos o que é certo. Se alguém tira a própria vida, fez algo errado, pecou, e se pecou e morreu, então, não pode ser salva.

O que não se dá conta nestas narrativas é o fato de que a perspectiva bíblica nos propõe um caminho completamente diferente deste. Essa cosmovisão é espirita e não da espiritualidade bíblica.

Na perspectiva bíblica nós somos ligados novamente a Deus e permanecemos ligados a Ele por conta do que Jesus Cristo fez em nosso favor.

Quando nós aceitamos que somos pecadores, que nosso coração se rebelou contra Deus, nos arrependemos disso e acolhemos o que Deus nos oferece através da vida justa e perfeita de Jesus Cristo, então, somos perdoados de todos os nossos pecados, ou seja, de toda a nossa rebelião.

Quem nele (Jesus Cristo) crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no nome do Filho Unigênito de Deus.” (João 3.18)

Ou seja, de acordo com este texto, assim como muitos outros, uma pessoa é perdoada, e reconciliada com Deus, logo salva, porque ela se rendeu em fé àquilo que Jesus Cristo fez por ela.

Se uma pessoa que não crê em Jesus Cristo, segue a vida com um coração rebelde contra Deus, se matar, ele não usufruirá da salvação, não porque se matou, mas porque não estava reconciliado com Deus.

De modo semelhante, se uma pessoa se arrepende, abre mão de sua rebelião, coloca-se sob o governo amoroso de Deus através de aceitar o que Jesus Cristo fez por ela, em um momento de distúrbio ou devaneio existencial, ou por conta das circunstâncias, tirar a própria vida, esta pessoa não perde sua salvação, porque ela não é desligada de Deus ou ligada a Deus pelo que ela faz, mas por aceitar o que Jesus Cristo fez por ela.

Escrevi-lhes estas coisas, a vocês que crêem no nome do Filho de Deus, para que vocês saibam que têm a vida eterna.” (1João 5.13)


A RELAÇÃO DE INTIMIDADE COM DEUS PROTEGE CONTRA O SUICÍDIO


Apesar das Escrituras nos mostrarem que o suicídio não é uma realidade que possa afetar a nossa conexão com Deus, o que chamamos de salvação, ele não é aprovado ou incentivado pela Palavra de Deus.

Na verdade como vimos, estudos comprovam que a maior parte das pessoas que se suicidam é porque estão de alguma maneira com suas vidas abaladas pela realidade das contingências da desconexão com Deus.

Embora um autêntico seguidor de Jesus Cristo possa passar por uma situação que o desequilibre e o leva a tirar a própria vida, tal realidade é uma exceção e tem-se mostrado como tal ao longo da história.

Vemos, por exemplo, em histórias narradas no Antigo Testamento, homens que enfrentaram pressões terríveis em suas vidas e que tiveram o sentimento suicida, como Moisés, Jonas e Elias, mas que não levaram a cabo tal ação.

Isso porque foram pessoas que souberam dar ouvidos a voz do Espírito Santo que cuida e restaura nossas vidas. Logo, o caminho para que ajudemos as pessoas a se verem livres desta postura e para nós mesmos a vencermos é o Evangelho.

Devemos nos lembrar que através de Jesus Cristo nós já recebemos a vida eterna e já estamos desfrutando dela.

Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” (João 17.3)

O que precisamos e o que cada pessoa precisa é de sentido para suas vidas. E este sentido não está meramente no que conseguimos fazer ou produzir, mas em re-encontrarmos o sentido da vida para a qual nós fomos criados.

Ele fez tudo apropriado ao seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim ele não consegue compreender inteiramente o que Deus fez.” (Eclesiastes 3.11)

Todo ser humano foi criado para se relacionar em amizade e amor com Deus. Todo ser humano perdeu isto. A todo ser humano é oferecido a possibilidade de retomar essa realidade. E aqueles que retomam, jamais tornaram a perde-la de novo.

Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem qualquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 8.38-39)


Para refletir e praticar:

  1. Comprometa-se a fazer todo o possível para compartilhar o evangelho com cada pessoa que está ao seu redor como a esperança para a vida. O evangelho é a resposta cabal ao suicídio.
  2. Se você lidar com a realidade de uma pessoa que perdeu alguém pelo suicídio dê-lhe uma palavra de consolo, mostrando que em Jesus Cristo nada pode nos separar do amor de Deus. Que em Jesus Cristo a pessoa que ficou pode encontrar forças para não desistir de viver.
  3. Se você passar por alguma fase em sua existência fazendo com que a vida se torne cinza, sem graça, sem cor, lembre-se de permanecer com seu coração ligado ao Senhor, pois é o Espírito Santo quem dará a você condições de não tomar o suicídio como uma alternativa para sua vida. Se nós nos mantivermos ligados a Deus ele atravessará conosco o vale de sombra e de morte e nos colocará uma mesa na presença de nossos adversários.
No Caminho,

By Ricardo Costa

2 comentários:

LUIZ JOSÉ SANFERRER disse...

Olá Ricardo, participei de algumas Conferências do CTPI para plantadores. Neste ano, planejo fazer o curso e a avaliação. Muito rica a sua abordagem sobre o suicídio. Precisamos mesmo pregar sobre isto na igreja, pois, é o local onde, por mais que alguém queira ignorar, existem muitas pessoas que já pensaram ou ainda pensam em suicidar-se. Que Deus continue abençoando você.

LUIZ JOSÉ SANFERRER disse...

Olá Ricardo, participei de algumas Conferências do CTPI para plantadores. Neste ano, planejo fazer o curso e a avaliação. Muito rica a sua abordagem sobre o suicídio. Precisamos mesmo pregar sobre isto na igreja, pois, é o local onde, por mais que alguém queira ignorar, existem muitas pessoas que já pensaram ou ainda pensam em suicidar-se. Que Deus continue abençoando você.