segunda-feira, 4 de março de 2013

Divórcio e Novo Casamento


INTRODUÇÃO

Vivemos em um momento da história onde vários valores que tradicionalmente foram vistos e entendido como corretos estão sendo questionados.

Nossa sociedade relativista defende que devemos buscar um estilo de vida onde cada um se sinta confortável com o que acha ser melhor para si mesmo. Contudo, tal posicionamento não isenta a sociedade de se questionar em relação a uma série de assuntos que inquietam a muitos.

Nesta série nos propomos a pensar a partir da cosmovisão bíblica, quais respostas o evangelho tem para algumas destas questões. Começaremos pela questão relacionada ao divórcio e novo casamento.

Em nossa sociedade temos visto crescer cada vez mais essa situação relacionada a pessoas que não conseguem levar adiante seu relacionamento conjugal. Famílias marcadas pelo divórcio aumentam cada vez mais.

Quando um relacionamento não é levado adiante, e vem a terminar, a pessoa pode ou deve buscar uma nova relação? O que o evangelho tem a nos dizer sobre isso?

Antes de darmos continuidade a esta questão é preciso que deixemos claro uma outra. Não somos favoráveis a postura relativista de nossa sociedade quanto a verdade, mas também não somos favoráveis a idéia de que os ensinos de Jesus Cristo sejam transformados em preceitos ou normas genéricas, que alguns acham que devem ser aplicadas a toda e qualquer situação. Chamamos isto de fundamentalismo. Por exemplo:

  1. Será que em qualquer situação devemos oferecer a outra face e jamais revidar? Mesmo quando isso implica em ver alguém sendo atacado e agredido?
  2. A verdade sempre deve ser dita, mesmo que ela arruine os seus relacionamentos?
  3. Nunca devemos deixar ninguém presenciar nossas orações, porque Jesus disse que devemos orar em secreto?
  4. Devemos dar tudo o que temos aos outros e vivermos na pobreza, porque Jesus ordenou isto?
  5. Nunca devemos nos separar, porque a Bíblia diz que aquilo que Deus uniu o homem não deve separar?

A questão que temos que levantar aqui é justamente esta! Diante das dificuldades que algumas destas questões, e outras, nos levantam, acabamos preferindo deixar a “rã na chaleira”. Deixamos de pensar e lutar diante da palavra de Deus com estas questões, achando que se não pensarmos nelas será melhor.

Mas não é! Há perguntas sendo feitas, e o evangelho pode respondê-las. Então, vamos lá. Como podemos lidar com a questão do divórcio e o novo casamento?

Vejamos o texto de Mateus 19.1-11, como fundamento para nossa reflexão.

          O CASAMENTO DEVE SER VISTO COMO PARTE DO PLANO ORIGINAL DE DEUS PARA A HUMANIDADE.

Jesus respondeu: Vocês não leram que, no princípio, o Criador os fez homem e mulher e disse: Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne? Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém separe.” (Mateus 19.4-6)

A questão aqui é que Jesus está sendo posto a prova por um grupo de religiosos que só tinham como interesse embaraça-lo e não de fato saber qual a vontade de Deus para esta questão (Mateus 19.3).

Assim como no contexto de Jesus, hoje em dia, muitas pessoas não estão interessadas no que Deus tem a dizer, no que a palavra de Deus tem a nos ensinar, estão, antes interessadas em afirmar seus pontos de vistas e defendê-los, custe o que custar.

Alguns dizem: O divórcio é permitido, ninguém é obrigado a ficar casado com quem não gosta. Case-se e se não der certo separe-se e parta para outra.

Outros dizem: O casamento é sagrado e uma vez que você se casou, deve ficar casado não importa qual a situação que venha a enfrentar.

A resposta de Jesus nos coloca em duas direções paralelas.

  1. A primeira é que precisamos admitir que o casamento é o propósito original de Deus para a maior parte da raça humana. Deus abençoa a relação entre um homem e uma mulher que tem como objetivo a constituição de uma relação que irá caminhar por toda uma vida. Mas há pessoas que não se enquadrarão dentro do contexto do casamento (Mateus 19.10-12)
  2. A segunda direção é que nem tudo o que chamamos, ou achamos que é casamento, é unido por Deus. A afirmação de Jesus Cristo é que aquilo que Deus uniu não deve ser separado pelo homem. Então, precisamos nos perguntar: o que é que Deus uniu? O que Deus uniu diz respeito a uma relação que busca um amadurecimento emocional, estrutural e sexual, entre um homem e uma mulher. O casamento que é unido por Deus é aquele que tem as expressões da graça de Deus presente nele: perdão, misericórdia, parceria, paciência, cuidado, carinho, proteção, etc.

Ou seja, quando entramos em um relacionamento, não devemos fazê-lo com a idéia de vermos se dará certo, e enquanto der ficamos juntos, mas quando entramos em um relacionamento devemos fazê-lo com o compromisso de trabalhar duro para que ele dê certo.

Em Efésios 5.22-33 encontramos as orientações que devem marcar um casamento que é unido por Deus. Assim, não é meramente porque duas pessoas se unem que elas estão unidas por Deus. Não devemos nos unir com ninguém se não temos a consciência e o compromisso de trabalhamos juntos para que sejamos unidos por Deus.

Se um casal está em um relacionamento, estão casados, mas não há investimento, há abuso emocional, há abuso moral, há violência física, esse casamento não é unido por Deus.

Assim, ninguém é obrigado por uma questão de moralismo, seja cultural ou religioso, a se sujeitar a uma situação em que Deus não está aprovando.

Há duas possibilidades diante disto, arrependimento e mudança de atitude no casamento que pode mantê-lo. Ou o divórcio que deve levar a pessoa a viver em paz, que é o valor do Reino de Deus para nós.

Todavia, se o descrente separar-se, que se separe. Em tais casos, o irmão ou a irmã não fica debaixo de servidão; Deus nos chamou para vivermos em paz.” (1Coríntios 7.15)


O DIVÓRCIO DEVE SEMPRE SER ENCARADO COMO UMA REALIDADE QUE É FRUTO DA DUREZA DO CORAÇÃO DO HOMEM.

Perguntaram eles a Jesus: Então, por que Moisés mandou dar uma certidão de divórcio à mulher e mandá-la embora? Jesus respondeu: Moisés permitiu que vocês se divorciassem de suas mulheres por causa da dureza de coração de vocês. Mas não foi assim desde o princípio.” (Mateus 19.7-8)

A nossa cultura nos incentiva a lidar com as situações de nossa vida sem a devida reverência e seriedade que a elas são devidas. 

Segundo a palavra de Deus fomos criados para uma vida plena de sentido e significado, mas nossa teimosia e rebelião contra Deus nos levou para uma vida de confusão e desastre.

O nome que a palavra de Deus dá a isto é pecado. O pecado é uma postura de rebeldia contra a palavra e o poder de Deus que estão disponíveis para a nossa vida. No caso do divórcio, segundo Jesus, o mesmo é resultante justamente desta resistência e dureza de nosso coração para com a direção que Deus nos dá.

Alguns exemplos quanto a isto é que queremos que o outro seja conforme o que imaginamos que ele é. Somos resistentes em estender graça e perdão para com o outro diante de suas falhas para conosco. Insistimos em ser o centro da relação, ao invés de deixar que Jesus Cristo seja o centro e etc.

A resposta de Jesus aos seus inquiridores passava pelo fato de que duas escolas rabinicas discutiam a tempos sobre os motivos que poderiam levar um homem a se divorciar de sua mulher.

  1. A escola do Rabino Hillel que permitia que o marido se divorciasse de sua mulher por qualquer motivo que o desagradasse.
  2. A escola do Rabino Shammai que ensinava que o único motivo admissível para o divórcio era a infidelidade conjugal comprovada.

Jesus está trazendo uma resposta diretamente ao contexto cultural dos seus inquiridores. E nesta resposta ele deixa claro que o divórcio é, antes de mais nada, fruto da dureza do coração humano, assim ele vai além das duas escolas.

Quando sua resposta deixa todos chocados ele expressa sua opinião de que a única razão cabível para um divórcio seria a infidelidade. Mas, precisamos tomar essa colocação de Jesus com atenção e com reflexão profunda, por dois motivos:

  1. Ele está dando uma explicação do porque Moisés deixou registrado algo sobre o divórcio. Mas com clareza ele expõe que o projeto original não incluía o divórcio, ou seja, precisamos vê-lo como parte da realidade da queda.
  2. Jesus está encarnado em um contexto específico e lida com uma situação especifica, portanto, precisamos tomar o princípio para que possamos olhar para o nosso contexto, nossa cultura e trazer uma resposta bíblica, com base no evangelho, para ela. E não uma mera regra que achamos que foi estabelecida.

A regra não é que podemos nos divorciar devido a infidelidade conjugal e por nenhum outro motivo. A regra é que devemos ver o divórcio como uma realidade da nossa vida que está inserida no contexto da Queda, mas que este não é o plano original de Deus, portanto, pode ser transformado pelo evangelho.

A GRAÇA DE DEUS SEMPRE NOS OFERECE NOVOS COMEÇOS.

“Eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, e se casar com outra mulher, estará cometendo adultério.” (Mateus 19.9)

Novamente precisamos enfatizar que Jesus Cristo está inserido em uma cultura específica e lidando com uma questão específica desta cultura.

A questão que ele está lidando aqui é que em uma sociedade onde as mulheres não tinham vez, onde o homem tinha poder absoluto sobre o que decidir quanto a sua mulher, Jesus está criando uma esfera de proteção para as mulheres.

Os homens não podem tratar as mulheres como se fossem meros objetos e se não estivessem satisfeitos simplesmente descartá-las. Se houvesse algum motivo para o divórcio, então, este deveria ser realmente sério, como uma traição por parte de sua mulher.

Jesus estabelece a restrição ao homem! Diz que se este se separasse de sua esposa por qualquer motivo e se casasse com outra estaria em adultério diante de Deus. Isso significa que se a questão fosse por causa de uma relação sexual ilícita, então, o homem estaria livre para se casar com outra mulher. A graça de Deus poderia favorecê-lo em um novo começo para sua vida.

Agora, precisamos voltar os olhos para o nosso contexto, para o nosso século e o nosso contexto cultural. Não adianta simplesmente batermos a mão na Bíblia e insistirmos que as pessoas ajam de acordo com aquilo que Jesus disse no primeiro século. 

Não estou relativizando a palavra de Deus! Estou dizendo que ela tem resposta concreta para nosso contexto contemporâneo.

  1. Primeiro, precisamos entender que aquilo que Jesus disse aos homens no primeiro século, hoje aplica-se a homens e mulheres. Nem o homem e nem a mulher podem decidir partir para o divórcio em seu casamento por qualquer motivo (Marcos 10.11-12). 
  2. Segundo, precisamos nos lembrar que se ambos, marido e mulher, se submeterem ao governo de Deus, se renderem a direção do evangelho, se encherem da vida de Jesus Cristo, através de seu Espírito, então, qualquer realidade conjugal pode ser transformada, pois a dureza do coração se desfará.
  3. Terceiro, há uma nova possibilidade e esperança de re-início para qualquer pessoa que se coloque diante de Deus e busque nele a direção para o novo relacionamento. Tanto para o homem, como para a mulher. Aonde abundou o pecado superabundou a graça.

Então, a questão está em reconhecermos que a graça de Deus pode nos favorecer a novos começos, e estes novos começos podem ser experimentados tanto na transformação de um casamento que já existe a medida que ambos os cônjuges se submetem a palavra de Deus. Como, em um novo relacionamento que pode surgir com o tempo, quando realmente estamos conscientes de que o divórcio é produto da dureza do coração e desejamos ingressar em um novo relacionamento com uma outra atitude de coração.

Hoje em dia as pessoas apressam-se a achar que se seu casamento não está bom o que precisam fazer é se divorciar. Quando isso acontece, a maior parte destas pessoas já estão interessadas em outra pessoa, porque estão iludidas com a idéia de que um novo sentimento surgiu e que esta nova relação será melhor do que a anterior.

O divórcio é uma possibilidade real e um novo relacionamento pode ser favorecido pela graça de Deus, mas isso só será assim, quando o divórcio for o resultado inevitável do término de uma relação devido a dureza do coração de um dos cônjuges ou de ambos.

A graça de Deus pode nos dar um novo começo. Não precisamos ficar sentados sobre nossa angustia e amargura. Podemos nos levantar e ir para uma nova história que será plena e bela se a mesma estiver rendida ao governo de Jesus Cristo, mediante o evangelho, em nossas vidas.

PARA REFLETIR E PRATICAR:

  1. Se você está vivendo um momento delicado em seu casamento que tal tomarem a decisão hoje, de abrirem mão da dureza do coração e submeter a vida ao governo e direção de Jesus Cristo através do evangelho?
  2. Se você está se preparando para entrar em um relacionamento é importante conversarem e se comprometerem a buscar a união de Deus para vocês. Assumindo o compromisso de que irão se casar não para ver se dará certo, e se não der se divorciarem, mas que irão se casar para trabalharem juntos com Deus para que dê certo a relação de vocês.
  3. Se você está separado, principalmente se a pouco tempo, não se apresse a entrar em um novo relacionamento. Deixe Deus tratar com seu coração, seja para corrigir a dureza ou para curar as feridas, a fim de que indo para um novo relacionamento você o faça na dependência da graça de Deus.
By Ricardo Costa

Nenhum comentário: