segunda-feira, 1 de março de 2010

Avatar: Em dimensões missionais.


Olá pessoal!
Na semana passada, finalmente, consegui ir assistir o filme Avatar. Eu minha amada e meus três filhos curtimos muito. Como não poderia deixar de ser, o tempo todo minha mente de missiólogo esteve ativa. Achei o filme fantástico. Não há nenhuma novidade na história, mas de fato a tecnologia de ponta surpreende. Agora, mesmo o enredo não sendo nada original, ele trata de um anseio que se faz presente no coração do ser humano. A medida que eu assistia o filme, por exemplo, várias vezes minha mente era reportada para o enredo de um outro filme que amo: "O Último Samurai". A mesma tônica do enredo é encontrado em outros filmes e desenhos, para exmplificar: Pocahontas e Atlantida, da Dinsey; Matrix e, como já citado, O Último Samurai.
Para mim, filmes como estes expressam a realidade de que o ser humano anseia pela redenção. E, mesmo que seus autores não saibam, acredito que estes enredos carregam em si o que o missiólogo Dom Richardson apresenta em seu celebre livro, "O Fator Melquisedeque", onde ele defende a tese de que em toda cultura, Deus deixou alguns pontos de engates para o Evangelho.
Muito bem, feito a introdução, deixe-me compartilhar com você como vejo isto em Avatar e nos demais filmes do gênero. Mas antes, preciso fazer a seguinte observação. Muitas cristãos se prenderam ao título do filme (Avatar) alguns julgando o filme pelo título, devido a palavra se referir a uma expressão da espiritualidade hindu e tibetana. Contudo, a palavra "avatar", tem também hoje em dia um uso definido no "cyberespaço" e refere-se a um personagem virtual que você cria para viver através dele no mundo da internet. Na minha opinião este é o uso do termo no filme.
Bem, vamos lá, o filme expressa, em minha opinião, um desejo que está presente no coração de todo ser humano: o anseio por uma vida que seja plena e significativa. Conforme a Bíblia diz em Eclesiastes 3.11: "Ele (Deus) fez tudo apropriado ao seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim ele não consegue compreender inteiramente o que Deus fez." A história se repete em Avatar. É reconhecido que o ser humano é corrompido e que tudo que o atraí está envolvido com poder e ganância, mas ao mesmo tempo, existe a busca por algo novo e diferente.
Na história, como disse o enredo não é original, o personagem principal do filme, é introduzido a uma cultura para conhece-la a fim de ajudar seus conterrâneos a domina-la, mas acaba redimido pelo que vê, pelo estilo de vida que passa a conhecer.
Para meus olhos de missiólogo há muitas pontes que podemos fazer no filme para criarmos diálogos com o Evangelho, mas vou me ater a 3, para fazer uso do jogo de palavras de "Avatar em 3D" para "Avatar em 3M"(três dimensões missionais).

1. Primeiro, achei muito interessante a relação de que todo o universo dos "Na'vis" fosse integrado e tirava sua vida da "Árvore das Almas". Algumas pessoas vêem nisto uma expressão de panteísmo e eu posso até concordar pelo fato de que as pessoas que assim enxerguem sejam pessoas que não conheçam ao Deus vivo e verdadeiro, mas como cristão e conhecedor do Deus vivo, vejo aqui uma grande ponte para o Evangelho, pois o apóstolo Paulo diz que nós, todos os seres humanos, vivemos por causa da vida de Deus: "Pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como disseram alguns dos poetas de vocês: Também somos descendência dele" (Atos 17.28). A Bíblia diz que quando o ser humano peca, Deus, por um ato de graça, expulsa-o do Jardim do Éden para que o fruto da "árvore da vida" não fosse comido pelo ser humano no estado em que estava para que não vivesse a vida toda separado de Deus. Em Apocalipse 22, somos informados que uma vez concretizado plenamente nossa redenção, estaremos expostos novamente a "árvore da vida" e comeremos do seu fruto. Pois bem, aqui encontro a primeira conexão de diálogo que podemos desenvolver entre o filme Avatar e o Evangelho, Ao invés de ficarmos atacando e acusando o filme de panteísta, vamos usar o argumento da "árvore das almas" para ligar isto com a "árvore da vida".

2. Segundo, o estilo de vida nos "Na'vis", assim como acontece no filme "O Último Samurai" é preponderante para o processo de redenção do personagem principal do filme. Este estilo de vida é marcado por um profundo respeito a criação, a consciência de que a mesma contribui para a manutenção da vida deles e por isto precisava ser respeitada; é marcado por um profundo senso de comunidade e de compromisso comunitário e pelo reconhecimento e acolhimento de uma pessoa ao grupo como sendo um "novo nascimento". Todos estes elementos fazem link com conceitos do Evangelho. Fomos criados como seres para administrar com respeito e reverência o restante da criação e não para destruí-la, o conceito de batismo nas Escrituras tem a ver com o conceito de um "novo nascimento" e um novo nascimento não para que permaneçamos em nosso individualismo, mas para sermos conduzidos a uma nova vida, agora como parte integrante do povo de Deus, da comunidade da nova aliança. Em Atos 2.42-47 nós somos informados do estilo de vida que os primeiros discípulos em Jerusalém tinham e que este estilo de vida era um dos fatores que contribuía para o processo da redenção das pessoas, pois após a descrição do mesmo o autor de Atos diz que Deus diariamente acrescentava a eles os que iam sendo salvos. Eu fico a me perguntar o porque que nosso estilo de vida como igreja hoje, ao invés de atrair as pessoas para a redenção é usado como um argumento para que as mesmas fiquem longe de Deus. Sim, é isto mesmo! Uma das desculpas que mais ouço de pessoas para que as mesmas não se comprometam para valer com o governo de Deus sobre a vida delas é: "Eu acredito em Deus, mas a igreja é...." A verdade é que as pessoas estão a procura de algo que as fascine, um estilo de vida que as convença que há algo que vale a pena migrar, e a igreja é a comunidade aonde isto deveria ser encontrado. Não estou falando de perfeição, pois a igreja nunca será perfeita aqui, estou falando de atração. Observe que nestes filmes, em Avatar no caso, a cultura apresentada não é perfeita, há ciúmes, há preconceito, há medo, mas também há autenticidade e um real compromisso dos "Na'vis" com seu estilo de vida, que atrai as pessoas que passam a conhecê-los e contribui para a redenção. Portanto, vejo aqui mais uma ponte que podemos fazer com o Evangelho, mas para que esta seja consistente precisamos rever nosso estilo de vida como cidadãos do Reino de Deus.

3. O terceiro elemento que quero trabalhar aqui, que ressaltou no filme para mim é o sacrifício pela missão. Jesus deixou claro que se o "grão de trigo não cair no chão e morrer, ele fica só, mas se morrer dará muito fruto" (João 12.24); e disse também que todo aquele que desejar ser seu discípulo deve negar a si mesmo, tomar a sua cruz e segui-lo (Marcos 8.34). O apóstolo Paulo diz que desejava conhecer a Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação em seus sofrimentos, tornando-se como ele em sua morte (Filipenses 3.10-11). No filme os "Na'vis" assim como os Avatares tem que entrar em uma batalha por aquilo que eles acreditavam e amavam, assim como no filme "O Último Samurai" e os outros citados aqui. O fato é que não existe amor sem sacrifício. Uma das grandes pontes que podemos criar entre o filme Avatar e o Evangelho é que existe sim algo pelo qual vale a pena sacrificar a nossa própria vida, e este algo é o Evangelho. A missão de sermos representantes do Reino de Deus no mundo e lutarmos pela salvação que Deus estende as pessoas e a manifestação plena do seu Reino na história é algo pelo qual vale a pena morrer. Precisamos ser libertos do nosso egoísmo e de uma vida auto-centrada em nós mesmos, para uma vida que nos leve a uma realidade transcendente. Isto é expresso no filme Avatar e podemos fazer aqui mais uma ponte com o Evangelho, convidando as pessoas a saberem que existe sim uma realidade e um mundo pelo qual vale a pena lutar e morrer e que ele não é um mundo virtual, mas real e que, ainda que morramos por ele, viveremos eternamente (Marcos 8.35).

Pois bem, como disse, há muitas outras pontes que podemos fazer entre o filme Avatar e o Evangelho, mas vou ficar por aqui, com estas três, e espero que elas possam ajudar vocês a olharem para o filme com outros olhos e a buscarem por conta própria outros links que possam estabelecer o diálogo entre o Evangelho e nossa cultura, pois, parafraseando Dom Richardson, Deus tem deixado, não apenas entre os povos não alcançados distantes, mas também entre nosso mundo urbano e pós-moderno, muitas evidências que podemos usar em favor do Evangelho.

No Caminho,

3 comentários:

Susy MPC disse...

Essa é uma das qualidades que mais amo em vc. Inteligente, sábio e sensato. Vive a vida com discernimento e sabe argumentar. Isso é realmente fascinante e atraente em vc. Exelente texto. AMEI!

Unknown disse...

Excelente texto, Pastor. Aliás, como tantos outros que você escreve. Definitivamente você tem o dom de escrever e dar palestras.
Sorte minha conviver com você e poder usufruir dessas "pérolas".

abraços,
Marcia Rodrigues

Taís Lara disse...

Uau!!!
Isso me faz lembrar "Tração por Atrito" de Uma Força em Movimento, ou seja, a possibilidade aproveitar as "brechas" da nossa cultura para mostrar a necessidade de uma redenção.
É realmente maravilhosa a perspectiva que esse post abriu. Já posso pensar em algumas pontes para fazer uma palestra no Projeto lá na escola... rsrs
Demais!

Taís Lara =D