segunda-feira, 7 de maio de 2012

A Mesa da Comunhão


Existem palavras que são próprias de um determinado contexto! Por exemplo:
  • há palavras que são próprias do contexto militar, como: SENTIDO!
  • há palavras que são próprias do contexto da intimidade familiar: Apelidos carinhosos que são dados no contexto da família
  • há palavras que são próprias do contexto esportivo: “O lutador levou uma baiana”.
Assim também a palavra COMUNHÃO é particularmente própria do contexto da igreja, a comunidade dos seguidores de Jesus Cristo.
No contexto social também há relacionamentos, amizade, parceria, e todas essas dimensões estão contidas na palavra comunhão, mas a palavra comunhão, em termos bíblicos transcende todas essas coisas.
Isso porque o conceito bíblico para a palavra comunhão é o evangelho! Na igreja temos comunhão não porque meramente gostamos das pessoas, não porque nos damos bem o tempo todo uns com os outros, mas porque o evangelho promoveu essa comunhão entre nós.
Jesus deixou claro que aquilo que ele veio fazer através de sua morte e ressurreição era promover a condição de termos nossa comunhão restaurada com Deus e uns com os outros.
“Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um: eu neles e tu em mim.” (João 17.20-23)
O nosso problema é que achamos que para essa “comunhão” existir as pessoas precisam sempre responder positivamente a nossas expectativas e isso não acontece, então, achamos que não temos comunhão.
Mas, a comunhão não é uma opção, é uma realidade. Portanto, ou nós nos dispomos a viver em comunhão com Deus e uns com os outros, ou não estamos vivendo em comunhão com Deus, mesmo que achemos que estamos vivendo.
Deixe-me compartilhar com você algumas realidades concernentes a vida de comunhão para a qual Deus nos resgatou.

A COMUNHÃO É ESTABELECIDA EM JESUS CRISTO.
“Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um e destruiu a barreira, o muro de inimizade, anulando em seu corpo a Lei dos mandamentos expressa em ordenanças. O objetivo dele era criar em si mesmo, dos dois, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliar com Deus os dois em um corpo, por meio da cruz, pela qual ele destruiu a inimizade. Ele veio e anunciou paz a vocês que estavam longe e paz aos que estavam perto, pois por meio dele tanto nós como vocês temos acesso ao Pai, por um só Espírito.” (Efésios 2.14-18)
Esse texto deixa claro para nós que foi através da morte de Jesus Cristo que Deus promoveu a reconciliação, não apenas entre nós e ele, mas também uns com os outros. Portanto, a comunhão não é fruto de um esforço de nossa parte para tentar ter um bom relacionamento uns com os outros.
A comunhão é manifestada em nossa vida para com o outro a medida que nos submetemos ao poder do evangelho, ao poder da vida de Jesus Cristo que está em nós, a medida que dizemos não para nossa justiça própria e nos colocamos sob a justiça da cruz.
Quando temos algum tipo de desentendimento, quando nos deparamos com alguma forma de manifestação de pecado cometido por nós ou por outros, precisamos entender que tal situação não destrói a comunhão. O que destrói a comunhão é a nossa indisposição de abrir mão de nossos direitos, quebrantar nosso coração e acolher com graça e perdão o outro e nos deixarmos ser acolhidos com graça e perdão pelo outro.
Se isso não for feito, estamos barrando nossa comunhão com o outro, mas também estamos barrando nossa comunhão com Deus. E é por isso que Jesus nos instrui a não adorar sem que nosso coração esteja resolvido com o outro.
“Portanto, se você estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com o seu irmão; depois volte e apresente sua oferta.” (Mateus 5.23-24)
A postura que nossa sociedade tem, incluindo muitos dos que fazem parte da igreja, é a de se temos problemas com alguém não vamos mais nos relacionar com essa pessoa:
  • Se nosso filho tem problemas com o professor vamos levá-lo para uma nova escola;
  • Se temos problemas no relacionamento conjugal, vamos atrás de uma nova relação; 
  • no caso de igrejas, vamos embora para outra, ou, alguns até acham que a pessoa com quem temos problema é que deve ir embora para outra igreja, pois afinal de contas chegamos primeiro.
Lembremos que Jesus Cristo pagou o preço da sua vida para que tivéssemos comunhão novamente com Deus e uns com os outros.
“Nós lhes proclamamos o que vimos e ouvimos para que vocês também tenham comunhão conosco. Nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo.” (1João 1.3)

A COMUNHÃO É MANTIDA POR NOSSA OBEDIÊNCIA A PALAVRA DE DEUS.
“Como prisioneiro no Senhor, rogo-lhes que vivam de maneira digna da vocação que receberam. Sejam completamente humildes e dóceis, e sejam pacientes, suportando uns aos outros com amor. Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz.” (Efésios 4.1-3)
Nossa tendência natural, como seres humanos afetados pela Queda, é a de que nos injuriemos com o que vemos de errado no outro e respondamos a isso com indignação.
Contudo, se fomos alcançados pelo evangelho, estamos vivendo sob um novo poder, mas também sob uma nova ordem de padrões e de posturas que devemos assumir. Tiago nos diz:
“Meus amados irmãos, tenham isto em mente: Sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se, pois a ira do homem não produz a justiça de Deus.” (Tiago 1.19-20)
É claro que não estamos dizendo aqui que devemos fingir que não existe nada de errado, quando alguma coisa errada estiver acontecendo. O que estamos dizendo aqui é que a maneira como agimos com o que está acontecendo de errado é produzida por uma postura diferente, que deve se manifestar em nós se formos obedientes a palavra de Deus.
Veja o texto de Efésios nos ensina que devemos:
  • Que ao lidarmos uns com os outros precisamos ser completamente humildes, pois também temos nossas falhas, nossos desvios de caráter, nossos pecados, mesmo que esses estejam ocultos dos olhos das pessoas. Lembre-se que um dia todos eles serão revelados.
“Os pecados de alguns são evidentes, mesmo antes de serem submetidos a julgamento, ao passo que os pecados de outros se manifestam posteriormente. Da mesma forma, as boas obras são evidentes, e as que não o são não podem permanecer ocultas.” (1Timóteo 5.24-25)


  • Que ao lidarmos uns com os outros precisamos ser completamente dóceis. Ver o erro do outro não nos dá o direito de sermos duros no tratamento com o mesmo. Esse é o padrão do presente mundo mal, incluindo a religião, mas não é o padrão do Reino de Deus. Mesmo na correção precisamos ter palavras dóceis e gentis para com o outro e não palavras que firam e esmaguem.

“Irmãos, se alguém for surpreendido em algum pecado, vocês, que são espirituais, deverão restaurá-lo com mansidão.” (Gálatas 6.1)
  • Que ao lidarmos uns com os outros precisamos ser completamente pacientes. Nossa tendência é a de achar que para tudo tem um limite. Usamos a expressão “minha paciência tem limite”. O problema novamente é que na esfera dos nossos relacionamentos no Reino de Deus esse limite está definido pelo que Jesus Cristo fez por nós. E como ele nos perdoou ilimitadamente, precisamos ter paciência ilimitada uns para com os outros. Jesus em Mateus 18.15-17 e 21-35 nos ensina como é que a paciência deve ser uma pratica na manutenção de nossos relacionamentos como seguidores dele.
Nossa paciência precisa ser manifestada como um continuo suporte de amor um ao outro. Nossa meta é vermos a paz de Cristo preservada em nossos relacionamentos por conta da unidade do Espírito que temos entre nós.
Assim, se formos obedientes a toda a palavra de Deus e não apenas aquilo que nos é conveniente, se formos obedientes ao governo de Jesus Cristo que é exercido sobre nós por sua palavra e pelo poder de seu Espírito, nós vamos trabalhar pela reconciliação e preservação da paz em todas as esferas dos nossos relacionamentos.

A COMUNHÃO É DESENVOLVIDA A MEDIDA QUE CRESCEMOS NO NOSSO RELACIONAMENTO COM DEUS.
“Esta é a mensagem que dele ouvimos e transmitimos a vocês: Deus é luz; nele não há treva alguma. Se afirmamos que temo comunhão com ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado.” (1João 1.5-7)
Um detalhe que geralmente acaba nos passando despercebido é que a fonte de toda a comunhão está na nossa relação com Deus e não meramente na busca de um bom convício com o outro.
A palavra de Deus nos ensina que em Cristo fomos trazidos a paz! Ela nos ensina que devemos preservar essa paz através de nos mantermos vinculados pelo Espírito. E a maneira de nos mantermos ligados pelo Espírito é que cada um de nós tem no coração o desejo de buscar uma crescente vida de relacionamento com Deus.
Veja, isso é simples! Somos seres caídos! Nosso sistema original foi contaminado pelo pecado, e Deus em Jesus Cristo, pelo seu Espírito está nos restaurando ao plano original. Contudo, para que isso aconteça nós precisamos nos dispor para responder continuamente a obra do evangelho em nossa vida.
Todos os dias precisamos escolher andar na luz! Todos os dias precisamos cultivar em nosso coração o compromisso com a rendição de nossa vontade ao Senhor. Nós não temos comunhão uns com os outros porque queremos, nós temos comunhão uns com os outros porque essa é a consequência natural de estarmos em comunhão com Deus.
O apóstolo Paulo nos apresenta isso em sua Carta ao Gálatas, quando nos fala sobre as obras da carne e o fruto do Espírito. Esses dois conjuntos de atitudes são a manifestação do nível de nossa vida com Deus e como isso se expressa para com nossos relacionamentos.
Vejamos como isso é tratado em Gálatas 5:
“Toda a Lei se resume num só mandamento: Ame o seu próximo como a si mesmo. Mas se vocês se mordem e se devoram uns aos outros, cuidado para não se destruírem mutuamente. Por isso digo: Vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne.” (Gálatas 5.14-16)
O contexto que dá fundamento a lista que é feita pelo apóstolo Paulo do que é chamado de obras da carne e frutos do Espírito é como estamos nos relacionando uns com os outros.
Satisfazer os desejos da carne neste texto é agir para com o outro conforme a nossa velha natureza anseia. E como é?
“Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes.” (Gálatas 5.19-21)
E viver pelo Espírito é andar em comunhão continua com Deus, buscando sua vontade manifesta em sua Palavra e agindo de conformidade com a vida do Espírito que está em nós. Se assim fazemos o que se manifesta em nossos relacionamentos é o que a palavra de Deus chama de fruto do Espírito.
“Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei.” (Gálatas 5.22-23)
Conforme o texto bíblico, nossos relacionamentos são beneficiados pelo fato de que já estamos em Cristo, e que nele estamos crucificando a nossa velha natureza. Não exigimos mais os nossos direitos, eles foram crucificados com Cristo.
“Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos. Se vivemos pelo Espírito, andemos também no Espírito.” (Gálatas 5.24-25)
Quanto mais íntimos formos de Deus, mais consciência teremos do pecado, mas também mais graça para oferecer aqueles que pecam.
CONCLUSÃO
Toda essa realidade se personifica na mesa da comunhão!
Aproximar-se da mesa da comunhão, para participar da santa ceia, exige de cada um de nós a disposição de estar em paz com Deus e uns com os outros.
As Escrituras nos dizem para não nos aproximarmos da mesa da comunhão sem discernir o corpo de Cristo. Isso significa que não podemos participar desta mesa sem ter a consciência de que ela promove a paz entre nós e Deus, mas também entre uns com os outros.
As Escrituras nos dizem que devemos examinar a nós mesmos e, então, comermos do pão e bebermos do cálice, e isso implica em ver se nosso coração não está precisando acertar qualquer pendência com o outro.
Implica em aceitarmos o fato de que comer e beber da mesa da comunhão é dizer para Deus que aceitamos a oferta de seu perdão e graça para nós e estamos dispostos a estendê-la aos outros.
Se fizermos a primeira parte sem a segunda, estamos comendo e bebendo juízo sobre nós, pois Deus irá nos colocar a mercê dos “torturadores”, até que aprendamos que mesmo que as pessoas errem conosco precisamos perdoá-las e liberá-las de nossas exigências, seja quantas vezes forem, pois fomos perdoados uma única vez, mas de uma dívida impagável.

No Caminho,


Ricardo Costa

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