quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Estranho ou normal?

Olá pessoal!

Quero fazer uma pergunta para vocês: Você já leu o livro de Atos dos Apóstolos?  Se já leu o que é que pensa sobre ele? O que é que você pensa quando lê as histórias ali narradas?

Já a muito tempo ouço pessoas dizendo, e isso era muito enfatizado pelos meus professores nas aulas de Teologia no Seminário quando eu estudei, que esse livro é um livro histórico, que apenas conta um momento da história da igreja, e que as coisas não são mais do jeito que lemos lá. Que não podemos fazer "doutrina" (ensinar fundamentos do que Deus quer para nós) a partir do livro de Atos.

Pois bem, eu acho que esse é um conceito completamente equivocado quanto ao livro de Atos e quanto a Bíblia toda. Penso que esse conceito foi desenvolvido e é defendido por muitos, porque na verdade, o tipo de "Cristianismo" que se busca no mundo ocidental não é o que nos conduz a uma nova cosmovisão de mundo, marcada pela ótica do Reino de Deus, ensinada por Jesus, revelada na Bíblia, e desenvolvida no livro de Atos.

O tipo de "Cristianismo" que interessa para muitos de nós e de nossas igrejas, é um que venha apenas complementar a nossa própria cosmovisão ocidental da vida, com a qual nós estamos confortáveis. Muitos querem um "Cristianismo" que complemente e não que transforme.

Na minha opinião é em função disto que olhamos para o livro de Atos e achamos "estranho" o que deveria ser visto como normal, por todos nós, se já estamos vivendo no poder do Espírito Santo, na liderança de Jesus Cristo e no novo ambiente do Reino de Deus.

O fato é que, quando vamos para as cartas do Novo Testamento o que lemos lá são ensinos que nos dão o fundamento de que o "normal" é o que vemos sendo vivido no livro de Atos dos Apóstolos e não o que vemos sendo vivido no nosso "cristianismo ocidental".

Não sei quanto a você, mas já a tempos que luto com meu próprio coração, sempre desejando tudo o que Deus tem para mim. Não quero nada menos do que tudo o que Deus tem planejado oferecer para aqueles que foram alcançados pela graça do Evangelho, não quero nada que vá além desta mesma graça.

Quando leio o livro de Atos vejo que é isso que eles vivem e é isso que nos é oferecido. É estranho para você? É estranho para nós? O fato de ser estranho não significa que não seja o verdadeiro....

Para e ore por um momento agora! Jesus disse que receberíamos poder ao descer sobre nós o Espírito Santo para que fossemos suas testemunhas. Então, ore pedindo que esse testemunho do Espírito flua de sua vida hoje, a cada dia, de modo estranho, mas que seja naturalmente sobrenatural.

No Caminho,



quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Restauração e missão

Olá pessoal!

A minha semana começou bem cheia, na verdade ela seguiu desde quarta feira passada e só consegui parar ontem, durante o dia, para descansar um pouco.

Como está a semana de vocês? Meditando nas Escrituras essa semana fui levado ao texto de 1Reis 19, onde temos uma história muito interessante relacionada ao profeta Elias.

Elias acabara de vencer os 450 profetas do falso deus Baal e demostrado que o SENHOR era o único e verdadeiro Deus. Como resultado o povo ficou empolgado e os 450 profetas de Baal foram mortos por Elias.

A expectativa de Elias era que isso desencadearia um poderoso arrependimento no rei Acabe e em toda a nação de Israel, mas ao contrário disso, Acabe foi contar a Jezabel, a rainha sacerdotisa de Baal o que acontecerá e ela ficou muito furiosa e mandou um recado a Elias de que ela iria matá-lo, como ele fizera aos profetas de Baal.

Aqui ocorre algo surpreendente! Diante da ameaça de Jezabel, Elias que havia vencido os profetas, que havia demonstrado que os deuses dos Cananeus eram falsos, fica com medo de ser morto por Jezabel, e foge.

Quantas vezes nós não nos encontramos em situações semelhantes a esta? Quantas vezes nós realmente estamos dispostos a lutar pelo Senhor, fazer com que nossa vida esteja de acordo com aquilo que Deus almeja para nós, enfrentamos situações difíceis, vencemos, mas ai, em seguida acontece algo que nos apavora e nos leva a fugir para salvar a vida.

Como é que Deus nos trata diante do nosso medo, da nossa frustração, da nossa descrença que Ele pode nos sustentar? Antes de responder a isso quero mostrar a situação de Elias, pois é muito parecida com a minha, e acho que também com a sua.

Elias, por confiar mais em sua própria força e por depositar suas expectativas nos resultados que almejava, passa a culpar-se por não ver o que esperava acontecer. Em seguida a culpa o leva a uma profunda depressão, que se desencadeia em um sentimento suicida. Então: medo leva a culpa, que leva a depressão, que leva ao desejo de morte. E isso tudo nos leva a fugir, fugir para o caminho oposto ao Senhor.

O que Deus fez? O que ele continua fazendo? 

Primeiro, Deus deixa Elias descansar fisicamente. Por três vezes o texto diz que Elias dorme. Às vezes, diante das enormes pressões que sofremos, a primeira coisa que precisamos é parar e descansar. Dormir, repousar, pois o Evangelho nos redime, mas ele não nos transforma em outra coisa qualquer a não ser em seres humanos mais integrais. Não somos anjos, não somos super-heróis. Somos seres humanos, e Deus sabe disso. 

Segundo, Deus restaura as forças físicas de Elias. Deus faz isso cozinhando para Elias, preparando pão quentinho e água fresca. Ele envia um anjo de garçom e Elias se alimenta com aquela comida, recobra as forças de seu corpo. Imagino que ele devesse estar exausto e fraco, pois não é fácil matar 450 pessoas. Pense em como ele devia estar abalado emocionalmente, também.

Terceiro, Deus lhe dá instruções. O anjo diz a Elias que ele deveria ir para Horebe, o monte de Deus, ou seja, se você tem que fugir para algum lugar, fuja para Deus. Quando fugimos e nossa fuga nos leva para longe de Deus, sempre somos encharcados pela culpa e cometemos suicídio, se não físico, espiritual, sempre nos envolvemos com o pecado.

Quarto, Deus ouve Elias. Por duas vezes, Deus pede para Elias se abrir com ele. Isso é confissão, e Elias, em ambas às vezes é honesto diante de Deus, expondo o que realmente lhe passava pelo coração. Muitas vezes nós somos mentirosos diante de Deus, não temos a coragem de confessar de verdade o que pensamos, optamos pelo convencional, por aquilo que nos ensinaram ser o certo a dizer para Deus. Mas Elias é honesto. E Deus acolhe sua honestidade.

E quinto, Deus se manifesta para Elias. Não é curioso o fato de que a Bíblia diz que Deus está falando com Elias dentro da caverna, mas ai ele diz para Elias sair da caverna, pois o Senhor iria passar? Pois bem, uma coisa é ouvirmos a Palavra de Deus, e ela sempre vem primeiro, mas outra é experimentarmos a presença de Deus, e esta, de vez em quando, Deus nos oferece de modo marcante e especial, para nos renovar.

Uma vez que Deus tratou com Elias, agora ele ordena que Elias volte pelo caminho por onde havia vindo. Elias estava refeito, a missão precisava continuar.

Como você está? Em que fase você se encontra? Deixe que Deus cuide de você, uma vez cuidado, levante-se e volte pelo caminho por onde veio, seja para seu trabalho, escola, família, igreja, ministério, volte para aquilo que te amedrontou e te fez fugir, pois a missão continua.

No Caminho,

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Lidando com a graça

Olá pessoal!

Uma das questões mais difíceis, em minha opinião, relacionadas ao Evangelho, é como lidamos praticamente com a graça de Deus em nossa vida.

Sempre que a graça foi afirmada houve a confusão em relação ao fato de como podemos ser amados e acolhidos por Deus e não pecarmos. A tendência que temos é da relação por mérito. Quando falhamos, quando erramos, nosso subconsciente diz que merecemos o castigo, pois é isso que queremos dar a quem falha conosco, e ai nos escondemos de Deus. Já foi assim com Adão.

A graça é a escolha feita por Deus para poder sempre se aproximar de nós, apesar de nossa natureza desfuncional e do nosso pecado. A Bíblia diz que nosso pecado faz separação entre nós e o nosso Deus, e não do "nosso Deus de nós". Preste atenção!

Deus é Santo, não temos nenhuma dúvida quanto a isso, mas nosso pecado não o mantém distante de nós. Nosso pecado nos distancia dele. Foi Adão que, depois de pecar, se escondeu de Deus, mas Deus veio a ele, mesmo depois que ele tinha pecado.

Isso é graça! Ai começam nossos problemas, risos. Porque a sensação que temos quando falamos isso, ou quando lemos isso, é: "Então, não importa que eu peque?" Bem, vou deixar o apóstolo Paulo nos responder isso:

"Que diremos então? Continuaremos pecando para que a graça aumente? De maneira nenhuma! Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele?"

Ai você diz: "está vendo?!? Então, se eu errei de novo, se eu pequei outra vez, não tem jeito para mim!" Você diz isso porque está olhando para Deus na mesma dimensão do mérito. Continua dependendo de seu próprio esforço para se relacionar com ele, ao invés de acreditar que ele veio a você em Jesus Cristo e continua vindo.

Ele já fez o primeiro movimento, agora precisamos fazer o segundo, como Adão precisamos sair de trás de nossas árvores, de trás de nossos esconderijos e nos apresentarmos a Deus com o nosso pecado. Quantas vezes? Tantas quantas forem necessário.

Quero terminar dando uma dica para vocês! A questão é de onde nos concentramos! A maioria de nós, movidos pela religião que nos influenciou e influencia tendemos a concentrar em nossos pecados. Pensamos assim: "Preciso lutar contra isso. Tirar isso de minha vida para que eu possa ter uma maior e melhor comunhão com Deus." 

Agora, o que não percebemos é que a única maneira de nos livrarmos do pecado é estando em Cristo, ou seja, mantendo nossa comunhão com ele. Então, o caminho na verdade é, se estou falhando, pecando, errando (seja qual for o pecado, mesmo aqueles que achamos um absurdo) precisamos intensificar nossa comunhão com Deus. Precisamos buscá-lo mais, orar, ler as Escrituras, estarmos em ambientes onde sua graça é adensada.

Aqui está nossa vitória contra o pecado: GRAÇA! 

Para agora e por um minuto agradeça a Deus pelo seu amor gracioso. Agradeça porque em Jesus Cristo nada pode te separar deste amor. E, se você pecar o que tem que fazer é reconhecer que precisa fortalecer mais sua comunhão com Deus, só ele pode te livrar do pecado e da morte.

No Caminho,

sábado, 13 de agosto de 2011

Presença

Minha semana que passou foi muito intensa. Desde quarta feira passada eu quase que não parei, envolvido com uma conferência de plantação de igrejas de quarta a sexta, com o Quatro Estações o dia todo no sábado, e no Domingo, com nossas atividades na igreja, segunda aulas no seminário e pregação a noite em um encontro de uma igreja em Campinas pastoreada por um querido amigo.

Ontem foi que consegui tirar um dia de descanso. Apesar de levantar cedo para levar o Hesley para a escola, voltei para a cama as 7 e fiquei lá por mais uma hora, tomei café com minha esposa e me dediquei por uma hora a atualizar alguns e-mails, depois de um pequeno tempo em oração. A tarde sai com a Susy, passeamos, assistimos um filme e a noite estive em um de nossos pequenos grupos da igreja em Jundiaí.

Hoje, acordei renovado! Semana que passou estive meditando um pouco sobre a questão da "presença". Você já percebeu como nós não sabemos estar presentes no lugar em que estamos?

Não fique confuso, vou explicar! Os místicos cristãos do Século XII costumavam falar sobre essa questão da "presença", que tem a ver com estarmos 100% no lugar onde estamos. Eles usavam isso para falar da importância de você estar 100% no lugar de oração, sem deixar sua mente ficar vagando e pensando em outras coisas quando estava ali.

Fiquei pensando em como nós não conseguimos fazer isso. Se para eles naquele tempo era difícil, imagine para nós que vivemos no Século XXI, cercados por tantas bugigangas que nos distraem, e competem com nossa atenção.

No entanto, essa questão da presença tem a ver com mais do que estar um tempo a sós com Deus em oração. Tem a ver com você ter consciência de que somente estando 100% aonde você está é que você irá de fato viver e perceber Deus.

O problema é que quando estamos orando ou lendo a Bíblia estamos pensando no almoço que precisamos fazer, na visita que temos que realizar, no filho que temos que pegar na escola, no ministério que precisa ser desenvolvido. Quando estamos lavando a louça, estamos pensando na novela que vai começar. Quando estamos trabalhando estamos pensando no Happy Hour da sexta. E quando estamos adorando em comunidade, estamos pensando no trabalho que temos para realizar na segunda feira.

Entenderam? Praticar a "presença" é você estar 100% focado no que você está fazendo e onde você está. Como pai, muitas vezes percebo que não faço isso com meus filhos, e como marido, não faço isso com minha esposa, e como discípulo não faço isso com meu Senhor e Deus. E você?

Talvez você diga, mas se eu estou dando 100% de minha atenção a um afazer ou a uma pessoa, onde fica Deus? Ele fica ali com você! E é aqui que entra a importância de tirarmos um tempo para darmos 100% a Deus.

Benedito, o fundador da Ordem Monástica dos Beneditinos, costumava dizer o seguinte: "Deus está em todo lugar, mas se você não se encontrar com Deus em um lugar específico por um tempo específico, você não vai percebe-lo em lugar nenhum." Você O tem encontrado?

No Caminho,

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O Evangelho: Nossa motivação


Uma vez que compreendemos o Evangelho como nossa fundação e entendemos como ele age em nossa formação, precisamos compreender que é ele também quem deve gerar a motivação para vivermos a vida do Reino.
Mas como é essa vida do Reino? Uma vez que vivemos tanto tempo escravos da nossa rebelião e ainda estamos inseridos em um mundo que está sob a tutela da desconexão com Deus, como é que podemos ter a motivação correta para viver a vida do Reino?
John Stott, um dos grandes interpretes da Bíblia no Século XX, que acabou de falecer no último dia 23 de Julho de 2011, se referia ao Sermão do Monte como um “manifesto”. O manifesto de Jesus sobre um novo Reino no qual ele é o Rei que manda e governa.
O Sermão do Monte começa com uma série de simples afirmações, que são conhecidas como as “bem aventuranças”, a maioria das pessoas acham essas palavras belas e poéticas, mas quando nós realmente entendemos o que Jesus queria dizer com essas afirmações, elas viram nosso mundo de cabeça para baixo.
As bem aventurança é um chamado para que assumamos um estilo de vida completamente diferente do que vivemos no nosso mundo. É um chamado para se viver a vida com uma visão completa da cruz. Na verdade é na cruz que tudo começa. Precisamos olhar para cima antes de olharmos horizontalmente.

I. VIVENDO AOS PÉS DA CRUZ
As primeiras duas bem aventuranças nos conduzem pela porta do Reino e as demais nos dirigem pelo caminho do Reino.
1. Uma pessoa centrada no evangelho é motivada pela consciência de sua pobreza espiritual.
“Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” (v.3)
O Sermão do Monte produz desespero no coração do homem natural, e é isso mesmo que Jesus queria fazer, porque assim que nós alcançamos o ponto do desespero, nós estaremos dispostos a vir a Jesus Cristo como pobres e receber por completo a sua graça. Consciência da nossa pobreza espiritual é a entrada para o Reino de Deus. O conhecimento de nossa própria pobreza nos põe no limiar da obra transformadora de Cristo em nós.
Mas o que significa ser pobre de espírito? Pobreza de espírito é a consciência e admissão de que nós somos basicamente pecadores e sem virtudes morais adequadas para sermos aprovados por Deus (R. Kent Hughes).
Esse é o primeiro princípio motivador do Evangelho do Reino. Até sermos alcançados pela graça de Deus por essa bem-aventurança, não podemos experimentar nenhuma outra bem-aventurança. O conhecimento de nossa própria pobreza nos põe no limiar da obra transformadora de Cristo em nós. Está no centro do que nos faz humildes. Não é só uma posição de humildade, é uma condição em que a Bíblia diz que todos nós já nascemos nela. Chamamos isso de degradação total!
Há, no entanto, três formas diferentes das pessoas enxergarem sua condição espiritual:
a) Os ricos de espírito – Os fariseus e religiosos moralistas.
b) A classe media de espírito – Os humanistas seculares.
c) Os pobres de espírito – Os cidadãos do Reino de Deus.
Precisamos compreender que a diferença de um cristão autentico e de um fariseu é que o fariseu se arrepende somente de seus pecados, mas os cristãos autênticos se arrependem também de sua justiça. (Timothy Keller). (Romanos 3.23; 14.23)
“O homem que é verdadeiramente pobre de espírito não precisa se preocupar tanto com a sua aparência pessoal e a impressão que ele dá; ele dará a impressão certa.” (Martin Lloyd-Jones)
Algumas questões para conversarmos:
-       Como você costuma mais se ver: espiritualmente rico, espiritualmente classe média ou espiritualmente pobre?
-       Como é que ver-se a sim mesmo de outra maneira que não seja espiritualmente pobre diminui a cruz em seu coração e mente?
-       Como é que ver-se a si mesmo espiritualmente pobre afeta o jeito que você se relaciona com os outros?
2. Uma pessoa centrada no Evangelho é motivada pelo se entristecer sem demora por seus pecados.
“Bem aventurados os que choram, pois eles serão consolados (v.4)
A única forma de se envergar a nossa bancarrota espiritual é o choro da confissão (2Coríntios 7.8-10).
Pela graça de Deus, quando envergamos a profundidade de nossa depravação espiritual, isso produz santa tristeza que produz o tipo de arrependimento que leva a salvação. Essa tristeza santa de que Paulo fala é a mesma a que Jesus se refere quando vemos a profundidade de nosso pecado. Choro santo leva ao verdadeiro arrependimento. As famosas 95 teses de Lutero dizem que “a vida inteira do crente deveria ser em arrependimento”.
E o que é arrependimento? É deixar Cristo virar o nosso mundo de cabeça para baixo de tal maneira que todo o aspecto da sua vida fique orientado na direção de Cristo e de seu Reino. Arrependimento é mudar de idéia sobre o que é crucial na nossa vida. Um dos grandes problemas com muitas das reuniões contemporâneas da igreja é que as pessoas vão embora do encontro sem estarem convencidos de sua pobreza espiritual e portanto nunca vão verdadeiramente chorar ou se entristecer pela profundidade do seu pecado.
Deixe-me tentar mostrar para você como é que somos pobres espiritualmente, mas não queremos reconhecer isso. Por que vocês acham que nós gastamos tanto tempo e dinheiro tentando escapar da realidade de nossas vidas com entretenimentos? Por que nós enchemos nossas vidas com tecnologia e nosso calendário com negócios? Por que queremos sempre estar ocupados? Pode ser porque nós temos medo de que, se ficarmos quietos por muito tempo, o eco do vazio de nossas almas será ouvido de modo mais nítido. Nós vivemos num mundo que foge do choro. É sobre isso que Jesus está falando em Lucas 6.25,
“Ai de vós, os que agora estais fartos! Porque tereis fome. Ai de vós, os que agora rides! Porque vós lamentareis e charareis”.
Herman Bavink escreveu o seguinte: “Quanto mais abundante os benefícios da civilização jorram no nosso caminho, mas vazia nossa vida se torna. Com toda a sua riqueza e poder, isso só mostra que o coração humano, no qual Deus colocou a eternidade (Eclesiastes 3.11), é tão enorme que o mundo inteiro é pequeno demais para satisfazê-lo.”
Se não tomarmos cuidado, os prazeres deste mundo podem se tornar instrumentos para nos anestesiar contra o horror do pecado. O problema é que os prazeres deste mundo são alívios temporários quanto ao horror do pecado, o Evangelho é o eterno alivio e despedida do pecado (1João 2.15-17)
A cruz pretende causar em nós um absoluto horror para com nosso pecado.
Choro é se entristecer pelo pecado da nossa própria vida, mas também se entristecer pelo pecado que há no mundo. Quando enxergamos a grande pobreza e dor que há no mundo, como resultado do pecado, não podemos mais tolerar o pecado em nossas próprias vidas e em nossas comunidades. No entanto, a não ser que nos entristeçamos pelo pecado em nós mesmos primeiro, ficamos como os fariseus orgulhosos, críticos e corruptos. É fácil não olhar para o próprio pecado e ser critico com os pecados do mundo.
Nosso conforto e alegria e o conforto e alegria que oferecemos ao mundo não são fundamentados nos prazeres vãs e temporais deste mundo, mas na eterna e imutável verdade do Evangelho. O grande paradoxo que Jesus pregava era que aqueles que choram vão achar alegria profunda.
“O homem que realmente chora pelo seu estado e condição de pecado é um homem que vai se arrepender; ele está, na verdade, já se arrependendo. E o homem que se arrepende verdadeiramente, como resultado do trabalho do Espírito Santo nele, é um homem que com certeza vai ser levado ao Senhor Jesus Cristo. Tendo enxergado seu interior de pecado e desesperança, ele procura por um Salvador, e ele o acha em Jesus Cristo. Ninguém pode realmente conhece-lo como seu Salvador e redentor pessoal a não ser que primeiro ele tenha conhecido o que é chorar. Pois é quando o homem se vê a si mesmo no seu estado sem saída de desesperança que o Santo Espírito revela a ele Jesus Cristo e sua perfeita satisfação” (Martin Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte).
Ou seja, se realmente chorarmos, vamos nos regozijar. É algo subseqüente como noite e dia.
Nosso conforto tem suas raízes no Evangelho. É o mesmo sentimento que você tem quando está num naufrágio, e em mar aberto, sem nenhuma esperança e, então, do nada, você é resgatado pela Guarda Costeira.
Essa nossa alegria e conforto tem, portanto, raízes na verdade que, por causa de Cristo na cruz, nós somos:
-       Justificados – feitos completamente justos diante de Deus e perdoados por causa da obra de Cristo na cruz (Colossenses 2.13-15)
-       Santificados – recebemos o Espírito Santo que trabalha em nós (1Tessalonicenses 5.23)
-       Glorificados – a esperança da obra completa de Cristo está em nós (Filipenses 1.6)
Agora por que na cruz? Porque a cruz pretende nos causar absoluto horror pelos nossos pecados, mas também quer nos mostrar as riquezas do perdão e da graça de Deus.
“Quando você vê suas próprias falhas e pecados, tanto mais preciosas, eletrificante, e incrível a graça de Deus parece a você. Mas por outro lado, quanto mais consciente você está da graça de Deus e da aceitação em Cristo, mais você é capaz de baixar suas negações e defesas e admitir as verdadeiras dimensões do seu pecado. O pecado abaixo de todos os outros pecados é a falta de satisfação em Cristo.” (Timothy Keller)
Para conversarmos:
-       Por que é importante que sejamos rápidos em reconhecer os nossos pecados e nos arrependermos?
-       Como essa atitude pode passar confiança aqueles que estão começando a andar com Cristo?

3. Uma pessoa centrada no Evangelho é motivada por uma vida de mansidão.
“Bem aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.” (v.5)

O resultado de termos consciência de nosso próprio pecado é que nos tornamos pessoas mais mansas para com o outro. Mansidão não quer dizer fraqueza, mas uma capacidade de ser dócil e misericordioso para com o erro do outro.

4. Uma pessoa centrada no Evangelho é motivada pela sede e fome da justiça daquele que é Justo.
“Bem aventurado os que tem fome e sede de justiça, porque serão fartos.” (v.6)
Justiça é o desejo de ser livre do poder e do desejo do pecado. Justiça é ter como desejo supremo na vida conhecer Deus e ter um relacionamento com ele. Satisfação, verdadeira satisfação, só pode ser achada em Cristo – só nele. Satisfação só vem quando experimentamos as gloriosas riquezas achadas na pessoa de Jesus Cristo.
Há um grande paradoxo neste texto. Jesus diz que seremos satisfeitos, mas teremos sede; cheios, mas teremos fome. Experimentar a Cristo verdadeiramente sempre nos levará a querer mais e mais dele. Quando experimentamos um pouquinho de Cristo, isso deve causar em nós o desejo de querer mais dele.
Vamos conversar:
-       O que você deseja para satisfazer a sua vida? Não responda Jesus muito depressa. Eu sei que essa é a resposta certa, mas é a resposta que você realmente crê? É o que você realmente quer?
-       Quais seriam algumas “guloseimas” que tem tirado seu apetite por mais de Jesus? Como você pode se livrar delas?
-       É a justiça o alvo da sua vida?

CONCLUSÃO

Como a consciência do Evangelho e uma vida aos pés da cruz podem nos tornar os portadores da redenção de Deus para o mundo?
Leia Mateus 5.13-16 e conversem sobre como podemos ser sal e luz de Deus em nosso mundo?

No Caminho,

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O Evangelho: Nossa fundação e formação


Na construção de uma casa o fundamento é o elemento mais importante. Tudo começa pela fundação. Sem uma boa fundação a casa “afunda”. Não adiante ter paredes bonitas, portas trabalhadas, janelas com vitrais, se tudo isso estiver sobre uma má fundação.
Assim também é a nossa vida e em especial a nossa vida no Reino de Deus. Precisamos desenvolver a nossa vida de fé sobre um sólido fundamento. A fundação adequada para nossa vida com Deus é o Evangelho.
“Conforme a graça de Deus que me foi concedida, eu, como sábio construtor, lancei o alicerce, e outro está construindo sobre ele. Contudo, veja cada um como constrói.”(1Coríntios 3.10)
“Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo Jesus Cristo como a pedra angular.” (Efésios 2.19-20)
Essa é uma questão de suma importância porque o que cremos sobre Deus, sobre o Evangelho e sobre nós mesmos irá ser visto em como vivemos e no que fazemos.
Em 1Coríntios 15.1-4 o apostolo Paulo diz: “Ora, eu vos lembro, irmãos, o evangelho que já vos anunciei; o qual também recebestes, e no qual perseverais, pelo qual também sois salvos, se é que o conservais tal como vo-lo anunciei; se não é que crestes em vão. Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; que foi sepultado, segunda as Escrituras; que foi ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras.”
Se essa é a mensagem que fundamenta a nossa vida, como, então, essa verdade afeta cada aspecto de nosso viver? Como isso informa e transforma nossas vidas? Como as pessoas com quem nós lidamos, com quem vivemos, estudamos, trabalhamos, são afetadas por essa mensagem em nossa vida?

I. O PONTO DE PARTIDA: A MENSAGEM DO EVANGELHO.
Quando a nossa vida e a vivência de nossa igreja está centrada no Evangelho nós não fazemos a pergunta “o que é que funciona melhor?”. Essa é uma pergunta que tem como pressuposto a nossa cultura contemporânea e não a cultura do Reino de Deus.
Quando o Evangelho é a fundação de nossas vidas a pergunta que fazemos é: “Qual é a melhor forma de nós mostrarmos quem Deus é e o que Ele fez, em e através de Jesus Cristo, de um modo apropriado dentro da cultura em que fomos inseridos?
Como uma igreja fundamentada no Evangelho o nosso objetivo não é o de converter pessoas para nossa igreja. O nosso objetivo é vê-las convertidas a Jesus através do Evangelho para que elas possam SER A IGREJA em missão, que verdadeiramente declara e demonstra o Evangelho na sua totalidade de vida.
Portanto, nosso ponto de partida, nossa fundação, ao pensar em como a nossa igreja deve ser, tem que ser informado pelo Evangelho.

II. ENTENDENDO O EVANGELHO: DUAS PERSPECTIVAS
Quando nós lemos a Bíblia nós podemos fazer isso de duas perspectivas diferentes: A da Teologia Sistemática ou a da Teologia Bíblica.
1.     Sistemática – Na perspectiva sistemática nós somos apresentados a implicação da redenção pessoal do Evangelho. Através desta perspectiva nós entendemos o meio para a salvação, que é o poder do Evangelho (Efésios 2.8-9). Isso nos é apresentado da seguinte forma:
REGENERAÇÃO – JUSTIFICAÇÃO – SANTIFICAÇÃO – GLORIFICAÇÃO
Nesta perspectiva, as Boas Novas são que Deus, em e através da obra de Jesus Cristo e do poder de seu Espírito (regeneração), nos aceita (justificação), e nos transforma (santificação) com o propósito final de glorificar o Seu nome em todos os aspectos de nossa vida (glorificação).
2.     Narrativa – Na perspectiva da teologia bíblica temos a implicação da redenção histórica do Evangelho. É a história das Escrituras. Através dessa perspectiva nós entendemos a razão para a salvação, que é o propósito do Evangelho. (Efésios 2.10, 14-22). Isso nos é apresentado da seguinte forma:
CRIAÇÃO – QUEDA – REDENÇÃO – RESTAURAÇÃO
a) Criação: Gênesis 1 e 2. A beleza da criação original de Deus é descrita neste texto. O mundo como Deus queria que ele fosse, com seres humanos feitos a sua imagem, cheios de importância, valor e dignidade; em perfeito relacionamento com o Criador, uns com os outros e a criação. Bem no fundo, dentro de todos nós, está um desejo de ter esse mundo, como originalmente foi criado para ser. Isso é mostrado em músicas, filmes, livros etc. (Eclesiastes 3.11)
b) Queda: Gênesis 3. A Bíblia claramente reconhece que o homem foi separado de Deus por causa da rebelião de nossos primeiros pais, Adão e Eva, que nos representavam. Dai em diante, o mundo inteiro tem estado em rebelião contra Deus. Em outras palavras, nós vivemos em um mundo quebrado! As coisas não eram para ser assim!
c) Redenção: Gênesis 3 a Apocalipse 19.  Deus, em sua infinita misericórdia e graça, mandou seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, ao mundo. Jesus viveu a vida perfeita que nunca poderíamos viver, e morreu a morte que nós todos merecemos. Ele levou a nossa punição, para que, crendo nele, nós pudéssemos estar num relacionamento correto com Deus. Crer em sua vida literal, em sua morte e ressurreição, e entregar nossas vidas a Jesus, é o único meio para a salvação.
d) Restauração: Apocalipse 21 e 22. Um dia Jesus voltará para estabelecer COMPLETAMENTE seu Reino e seu domínio. Nesse momento ele trará um novo céu e uma nova terra. Haverá um julgamento final, consumador, onde Jesus corrigirá todo o mundo. Até esse tempo, aqueles que já crêem nele, são seus agentes para o bem e para a mudança neste mundo em que vivemos.
Assim, precisamos entender que Deus, em Jesus Cristo, nos deu tanto a MESNSAGEM de reconciliação (o poder do Evangelho), quanto o MINISTÉRIO da reconciliação (o propósito do Evangelho).
A questão que precisamos entender é que não podemos optar por um em detrimento do outro. Quando fazemos isso deixamos de apresentar o Evangelho como a fundamentação para a vida. O que acontece se nós ensinarmos somente o meio para a salvação e não a razão para a salvação?

III. A RAZÃO PARA MANTERMOS A UNIÃO ENTRE AS DUAS PERSPECTIVAS
Precisamos conhecer e ensinar as duas perspectivas do Evangelho: a perspectiva do seu poder (regeneração-justificação-santificação-glorificação) e a perspectiva do seu propósito (criação-queda-redenção-restauração), porque somente assim é que temos o fundamento do Evangelho, pois a junção dos dois é que nos apresenta a história de Deus.
Quando nós entendemos e ensinamos tanto o poder do Evangelho como o propósito do Evangelho, conectamos a vida das pessoas a grande história da redenção, que se desdobra através da História. Isso dá significado e propósito para a vida das pessoas.
Se focarmos somente na obra do Evangelho (o poder do Evangelho: o que Jesus fez), mas não soubermos a história do Evangelho (o propósito do Evangelho: o que Jesus está fazendo através da igreja, da vida das pessoas que se rendem a ele), tenderemos a um evangelho que é somente sobre salvar indivíduos de seus problemas e perderemos a missão do Evangelho, que é sobre salvar pessoas para um propósito.
Um dos problemas com a maneira de se apresentar o Evangelho hoje é que nos esquecemos que é Deus quem está no centro da palavra do Evangelho. Muitas vezes o nosso evangelismo coloca o ser humano no centro. Quando o ser humano é o centro, então o Evangelho vira uma mensagem sobre como Jesus existe para resolver meus problemas e suprir as minhas necessidades. Mas, o Evangelho que Jesus proclamou é sobre Deus exercitando o seu objetivo de nos da a vida através do seu Filho, para a sua glória.
Se focarmos somente no poder do Evangelho, e perdermos a dimensão de seu propósito, tenderemos a produzir “Cristãos Consumidores” ao invés de “Cristãos Missionais”. A “igreja consumidora” é aquela que prove bens e serviços religiosos. As pessoas vem a igreja para serem “alimentadas”, para terem suas necessidades sanadas e seus problemas resolvidos através de programas de qualidade, e para ter os “profissionais da fé” ensinando seus filhos sobre Deus. O resultado final disso são clientes, pessoas que dizem “eu vou a igreja”.
Já a “igreja missional” é aquela que tem um corpo de pessoas que são enviadas em missão ao mundo, que se reúnem em comunidades para celebrar a graça, a bondade e a glória de Deus; que dedicam-se a cuidar uns dos outros e de carregar as cargas uns dos outros, contribuindo para o propósito do Evangelho na vida do outro. O resultado final disso são servos, pessoas que dizem “nós somos a Igreja”.
Por outro lado, se focarmos somente na história do Evangelho, mas perdermos a obra do Evangelho, tenderemos a focar nas obras do homem sem o poder de Deus (crendo que depende de nós a tarefa de mudar o mundo, e que seremos mais aceitáveis e significantes para Deus se estivermos fazendo mais), o fardo fica pesado, porque achamos que tudo depende de nós.
Lembre-se: A HISTÓRIA É TODA SOBRE ELE, NÃO SOBRE NÓS!

CONCLUSÃO

Como devemos responder ao Evangelho?
1. Arrependimento: Como é que eu já fiz o Evangelho ser todo sobre mim?
2. Fé: Como eu posso responder ao Evangelho de maneira diferente da que tenho respondido?
3. Obediência: Quais são as áreas de minha vida que eu preciso corrigir e submeter ao Evangelho de maneiras que ele transforme o que eu sinto e como eu me relaciono com os outros e com Deus?

No Caminho,