terça-feira, 9 de agosto de 2011

O Evangelho: Nossa motivação


Uma vez que compreendemos o Evangelho como nossa fundação e entendemos como ele age em nossa formação, precisamos compreender que é ele também quem deve gerar a motivação para vivermos a vida do Reino.
Mas como é essa vida do Reino? Uma vez que vivemos tanto tempo escravos da nossa rebelião e ainda estamos inseridos em um mundo que está sob a tutela da desconexão com Deus, como é que podemos ter a motivação correta para viver a vida do Reino?
John Stott, um dos grandes interpretes da Bíblia no Século XX, que acabou de falecer no último dia 23 de Julho de 2011, se referia ao Sermão do Monte como um “manifesto”. O manifesto de Jesus sobre um novo Reino no qual ele é o Rei que manda e governa.
O Sermão do Monte começa com uma série de simples afirmações, que são conhecidas como as “bem aventuranças”, a maioria das pessoas acham essas palavras belas e poéticas, mas quando nós realmente entendemos o que Jesus queria dizer com essas afirmações, elas viram nosso mundo de cabeça para baixo.
As bem aventurança é um chamado para que assumamos um estilo de vida completamente diferente do que vivemos no nosso mundo. É um chamado para se viver a vida com uma visão completa da cruz. Na verdade é na cruz que tudo começa. Precisamos olhar para cima antes de olharmos horizontalmente.

I. VIVENDO AOS PÉS DA CRUZ
As primeiras duas bem aventuranças nos conduzem pela porta do Reino e as demais nos dirigem pelo caminho do Reino.
1. Uma pessoa centrada no evangelho é motivada pela consciência de sua pobreza espiritual.
“Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” (v.3)
O Sermão do Monte produz desespero no coração do homem natural, e é isso mesmo que Jesus queria fazer, porque assim que nós alcançamos o ponto do desespero, nós estaremos dispostos a vir a Jesus Cristo como pobres e receber por completo a sua graça. Consciência da nossa pobreza espiritual é a entrada para o Reino de Deus. O conhecimento de nossa própria pobreza nos põe no limiar da obra transformadora de Cristo em nós.
Mas o que significa ser pobre de espírito? Pobreza de espírito é a consciência e admissão de que nós somos basicamente pecadores e sem virtudes morais adequadas para sermos aprovados por Deus (R. Kent Hughes).
Esse é o primeiro princípio motivador do Evangelho do Reino. Até sermos alcançados pela graça de Deus por essa bem-aventurança, não podemos experimentar nenhuma outra bem-aventurança. O conhecimento de nossa própria pobreza nos põe no limiar da obra transformadora de Cristo em nós. Está no centro do que nos faz humildes. Não é só uma posição de humildade, é uma condição em que a Bíblia diz que todos nós já nascemos nela. Chamamos isso de degradação total!
Há, no entanto, três formas diferentes das pessoas enxergarem sua condição espiritual:
a) Os ricos de espírito – Os fariseus e religiosos moralistas.
b) A classe media de espírito – Os humanistas seculares.
c) Os pobres de espírito – Os cidadãos do Reino de Deus.
Precisamos compreender que a diferença de um cristão autentico e de um fariseu é que o fariseu se arrepende somente de seus pecados, mas os cristãos autênticos se arrependem também de sua justiça. (Timothy Keller). (Romanos 3.23; 14.23)
“O homem que é verdadeiramente pobre de espírito não precisa se preocupar tanto com a sua aparência pessoal e a impressão que ele dá; ele dará a impressão certa.” (Martin Lloyd-Jones)
Algumas questões para conversarmos:
-       Como você costuma mais se ver: espiritualmente rico, espiritualmente classe média ou espiritualmente pobre?
-       Como é que ver-se a sim mesmo de outra maneira que não seja espiritualmente pobre diminui a cruz em seu coração e mente?
-       Como é que ver-se a si mesmo espiritualmente pobre afeta o jeito que você se relaciona com os outros?
2. Uma pessoa centrada no Evangelho é motivada pelo se entristecer sem demora por seus pecados.
“Bem aventurados os que choram, pois eles serão consolados (v.4)
A única forma de se envergar a nossa bancarrota espiritual é o choro da confissão (2Coríntios 7.8-10).
Pela graça de Deus, quando envergamos a profundidade de nossa depravação espiritual, isso produz santa tristeza que produz o tipo de arrependimento que leva a salvação. Essa tristeza santa de que Paulo fala é a mesma a que Jesus se refere quando vemos a profundidade de nosso pecado. Choro santo leva ao verdadeiro arrependimento. As famosas 95 teses de Lutero dizem que “a vida inteira do crente deveria ser em arrependimento”.
E o que é arrependimento? É deixar Cristo virar o nosso mundo de cabeça para baixo de tal maneira que todo o aspecto da sua vida fique orientado na direção de Cristo e de seu Reino. Arrependimento é mudar de idéia sobre o que é crucial na nossa vida. Um dos grandes problemas com muitas das reuniões contemporâneas da igreja é que as pessoas vão embora do encontro sem estarem convencidos de sua pobreza espiritual e portanto nunca vão verdadeiramente chorar ou se entristecer pela profundidade do seu pecado.
Deixe-me tentar mostrar para você como é que somos pobres espiritualmente, mas não queremos reconhecer isso. Por que vocês acham que nós gastamos tanto tempo e dinheiro tentando escapar da realidade de nossas vidas com entretenimentos? Por que nós enchemos nossas vidas com tecnologia e nosso calendário com negócios? Por que queremos sempre estar ocupados? Pode ser porque nós temos medo de que, se ficarmos quietos por muito tempo, o eco do vazio de nossas almas será ouvido de modo mais nítido. Nós vivemos num mundo que foge do choro. É sobre isso que Jesus está falando em Lucas 6.25,
“Ai de vós, os que agora estais fartos! Porque tereis fome. Ai de vós, os que agora rides! Porque vós lamentareis e charareis”.
Herman Bavink escreveu o seguinte: “Quanto mais abundante os benefícios da civilização jorram no nosso caminho, mas vazia nossa vida se torna. Com toda a sua riqueza e poder, isso só mostra que o coração humano, no qual Deus colocou a eternidade (Eclesiastes 3.11), é tão enorme que o mundo inteiro é pequeno demais para satisfazê-lo.”
Se não tomarmos cuidado, os prazeres deste mundo podem se tornar instrumentos para nos anestesiar contra o horror do pecado. O problema é que os prazeres deste mundo são alívios temporários quanto ao horror do pecado, o Evangelho é o eterno alivio e despedida do pecado (1João 2.15-17)
A cruz pretende causar em nós um absoluto horror para com nosso pecado.
Choro é se entristecer pelo pecado da nossa própria vida, mas também se entristecer pelo pecado que há no mundo. Quando enxergamos a grande pobreza e dor que há no mundo, como resultado do pecado, não podemos mais tolerar o pecado em nossas próprias vidas e em nossas comunidades. No entanto, a não ser que nos entristeçamos pelo pecado em nós mesmos primeiro, ficamos como os fariseus orgulhosos, críticos e corruptos. É fácil não olhar para o próprio pecado e ser critico com os pecados do mundo.
Nosso conforto e alegria e o conforto e alegria que oferecemos ao mundo não são fundamentados nos prazeres vãs e temporais deste mundo, mas na eterna e imutável verdade do Evangelho. O grande paradoxo que Jesus pregava era que aqueles que choram vão achar alegria profunda.
“O homem que realmente chora pelo seu estado e condição de pecado é um homem que vai se arrepender; ele está, na verdade, já se arrependendo. E o homem que se arrepende verdadeiramente, como resultado do trabalho do Espírito Santo nele, é um homem que com certeza vai ser levado ao Senhor Jesus Cristo. Tendo enxergado seu interior de pecado e desesperança, ele procura por um Salvador, e ele o acha em Jesus Cristo. Ninguém pode realmente conhece-lo como seu Salvador e redentor pessoal a não ser que primeiro ele tenha conhecido o que é chorar. Pois é quando o homem se vê a si mesmo no seu estado sem saída de desesperança que o Santo Espírito revela a ele Jesus Cristo e sua perfeita satisfação” (Martin Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte).
Ou seja, se realmente chorarmos, vamos nos regozijar. É algo subseqüente como noite e dia.
Nosso conforto tem suas raízes no Evangelho. É o mesmo sentimento que você tem quando está num naufrágio, e em mar aberto, sem nenhuma esperança e, então, do nada, você é resgatado pela Guarda Costeira.
Essa nossa alegria e conforto tem, portanto, raízes na verdade que, por causa de Cristo na cruz, nós somos:
-       Justificados – feitos completamente justos diante de Deus e perdoados por causa da obra de Cristo na cruz (Colossenses 2.13-15)
-       Santificados – recebemos o Espírito Santo que trabalha em nós (1Tessalonicenses 5.23)
-       Glorificados – a esperança da obra completa de Cristo está em nós (Filipenses 1.6)
Agora por que na cruz? Porque a cruz pretende nos causar absoluto horror pelos nossos pecados, mas também quer nos mostrar as riquezas do perdão e da graça de Deus.
“Quando você vê suas próprias falhas e pecados, tanto mais preciosas, eletrificante, e incrível a graça de Deus parece a você. Mas por outro lado, quanto mais consciente você está da graça de Deus e da aceitação em Cristo, mais você é capaz de baixar suas negações e defesas e admitir as verdadeiras dimensões do seu pecado. O pecado abaixo de todos os outros pecados é a falta de satisfação em Cristo.” (Timothy Keller)
Para conversarmos:
-       Por que é importante que sejamos rápidos em reconhecer os nossos pecados e nos arrependermos?
-       Como essa atitude pode passar confiança aqueles que estão começando a andar com Cristo?

3. Uma pessoa centrada no Evangelho é motivada por uma vida de mansidão.
“Bem aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.” (v.5)

O resultado de termos consciência de nosso próprio pecado é que nos tornamos pessoas mais mansas para com o outro. Mansidão não quer dizer fraqueza, mas uma capacidade de ser dócil e misericordioso para com o erro do outro.

4. Uma pessoa centrada no Evangelho é motivada pela sede e fome da justiça daquele que é Justo.
“Bem aventurado os que tem fome e sede de justiça, porque serão fartos.” (v.6)
Justiça é o desejo de ser livre do poder e do desejo do pecado. Justiça é ter como desejo supremo na vida conhecer Deus e ter um relacionamento com ele. Satisfação, verdadeira satisfação, só pode ser achada em Cristo – só nele. Satisfação só vem quando experimentamos as gloriosas riquezas achadas na pessoa de Jesus Cristo.
Há um grande paradoxo neste texto. Jesus diz que seremos satisfeitos, mas teremos sede; cheios, mas teremos fome. Experimentar a Cristo verdadeiramente sempre nos levará a querer mais e mais dele. Quando experimentamos um pouquinho de Cristo, isso deve causar em nós o desejo de querer mais dele.
Vamos conversar:
-       O que você deseja para satisfazer a sua vida? Não responda Jesus muito depressa. Eu sei que essa é a resposta certa, mas é a resposta que você realmente crê? É o que você realmente quer?
-       Quais seriam algumas “guloseimas” que tem tirado seu apetite por mais de Jesus? Como você pode se livrar delas?
-       É a justiça o alvo da sua vida?

CONCLUSÃO

Como a consciência do Evangelho e uma vida aos pés da cruz podem nos tornar os portadores da redenção de Deus para o mundo?
Leia Mateus 5.13-16 e conversem sobre como podemos ser sal e luz de Deus em nosso mundo?

No Caminho,

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